São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2000

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Cardeal Eugênio Sales

Dom Eugênio completou 80 anos no dia 8 de novembro. Sua vida totalmente dedicada à Igreja tornou-se, nesta semana, graças à ampla divulgação dos jornais, conhecida e admirada por mais pessoas: sua família e infância, a vocação para o seminário, a alegria da ordenação sacerdotal, os primeiros ministérios e a escolha para o episcopado em 1954, como bispo auxiliar da Arquidiocese de Natal. Com apenas 34 anos, era, na época, um dos bispos mais jovens da Igreja.
Sucederam-se as iniciativas pastorais, primeiro em Natal e, aos poucos, difundindo-se por muitas áreas do Nordeste e do Brasil. Sobressaiu o zelo criativo em ir ao encontro de graves necessidades do povo de Deus. Procurou atender às populações rurais. Desenvolveu programas de catequese, valendo-se dos meios de comunicação, especialmente do rádio. Talvez muitos não saibam que a "Campanha da Fraternidade", assumida mais tarde por todas as dioceses do país, teve sua origem na ação pastoral de d. Eugênio em Natal.
Em poucos anos, novas responsabilidades vieram a pesar sobre seus ombros. Em 1968 foi nomeado, por Paulo 6º, arcebispo primaz de Salvador e, logo após, cardeal. Em 1971, foi chamado a substituir d. Jaime de Barros Câmara como arcebispo do Rio de Janeiro. Nessa trajetória de intenso serviço eclesial e solidariedade humana unem-se o empenho de pastor pela evangelização e a solicitude por todos, com especial atenção aos mais necessitados.
Louvamos a Deus ao constatarmos a pastoral dos trabalhadores, a atenção aos presidiários e a seus familiares e a atuação nas favelas. Nos anos difíceis do governo militar, opôs-se tenazmente à tortura e socorreu, com coragem e discrição, milhares de refugiados políticos em defesa dos direitos humanos.
Merece destaque o esforço para manter diálogo entre os diversos setores da sociedade, com sessões de estudo e oração, convocando, na Casa do Sumaré, intelectuais, empresários, políticos, artistas e tantos outros.
A lista dos serviços prestados à Igreja é ampla, mas alcança seu nível mais alto nas iniciativas em favor das famílias e dos jovens, das vocações e da formação dos seminaristas, das atenções à vida consagrada e ao clero. Tem oferecido, a cada ano, aos irmãos no episcopado, dias de convívio, cursos de atualização pastoral muito apreciados.
As qualidades do zeloso pastor e sua incondicional fidelidade ao sucessor de Pedro estreitaram laços de profunda veneração e amizade com o santo padre. Dom Eugênio, desde o Concílio Vaticano 2º, tem ocupado importantes cargos nos dicastérios romanos e sua presença marcou os sínodos e as reuniões do Celam e da CNBB.
A data de seu aniversário e a lembrança destes oito decênios consagrados ao serviço de Deus são ocasião para que elevemos preces de gratidão, desejando que d. Eugênio continue com zelo a dar testemunho de total dedicação ao reino de Deus.
Gostaria de expressar minha estima e afeto por sua pessoa, recordando um fato simples, mas inesquecível. Há dez anos, sofri, na estrada de Itabirito (MG), um grave acidente de carro. Fiquei entre a vida e a morte. Estava nas mãos de Deus. Após a operação no coração, permanecia a maior parte do tempo entre dores e insônia. Dom Eugênio viajou do Rio de Janeiro para Belo Horizonte e foi dos primeiros a me visitar. Ao abrir os olhos, vi-o a meu lado. Não podíamos conversar. Abençoou-me e sorriu.
Obrigado, d. Eugênio!


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.



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