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CARLOS HEITOR CONY
Dom Eugênio
RIO DE JANEIRO - Não aprecio a comemoração dos aniversários, nem o
meu, nem o dos outros. Não há mérito em fazer anos. O aniversariante é
quem devia comemorar os amigos e
admiradores que o suportam.
Mas tudo muda quando certas personalidades atingem a respeitável
marca dos 80 anos. Este ano, participei com entusiasmo das homenagens
a Celso Furtado, um dos intelectuais
mais lúcidos e corretos do Brasil contemporâneo. E agora é a vez de dom
Eugênio Sales, cardeal-arcebispo do
Rio de Janeiro.
Antes de mais nada, um homem
que, ao fazer sua opção pela vida sacerdotal, compreendeu que tudo perderia o significado se não guardasse
fidelidade à causa que abraçou. No
caso de um católico, como de qualquer praticante de uma religião, essa
fidelidade é a peça fundamental de
sua integridade interior.
Dom Eugênio tem sido rotulado de
conservador, etiqueta restritiva nos
meios culturais. E utilizada como um
palavrão na mídia contemporânea.
O mesmo acontece com João Paulo
2º, com quem dom Eugênio é ligado
pela mesma concepção do munus
pastoral.
Dou o testemunho pessoal do muito
que ficamos devendo à sua atuação
nos subterrâneos da ditadura que recentemente atravessamos. Em silêncio, sem se curvar aos patrulhamentos ideológicos, sem cortejar os formadores de opinião, dom Eugênio foi
peça importante na custódia de perseguidos pelo regime totalitário.
Ao se tornar sacerdote de uma religião, aceitou o corpo doutrinário ao
qual livremente jurou servir. Não foi
manipulado pelas circunstâncias ditadas pela moda.
Numa época em que tudo é medido
pela popularidade, dom Eugênio dá
o exemplo de que a opinião não deve
ser produto do mercado. A causa que
abraçou não pretende ser moderna.
Seu compromisso é com os valores
eternos da condição humana.
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