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CARLOS HEITOR CONY
A urgência de ser feliz
RIO DE JANEIRO - Jovem universitária enviou-me alguns poemas que
havia feito e desejava minha opinião.
Elogiei-lhe a produção, apesar do
tom adolescente da maioria dos versos, que podiam ser resumidos num
único, justamente o primeiro verso
do primeiro poema: "Se tenho de ser
feliz, quero ser feliz já!"
O título era óbvio: "Urgência". A
moça tinha pressa em ser feliz, em
realizar seus sonhos, em viver a sua
vida. Para meu espanto, ela ficou
aborrecida. Disse que o verso nada
mais era do que o início da letra de
uma música da qual não guardei o
nome, sucesso que esteve nas paradas
uma porrada de tempo, ela desculpou a minha ignorância, reconhecia
que a música não fazia o meu gênero.
Lembrei este verso quando li a história da moça Suzane, também universitária, que tinha de ser feliz já. E,
para ser feliz imediatamente, voando, combinou com o namorado a
morte dos pais, abriu-lhe a porta da
casa, o rapaz com a ajuda de um irmão, matou o pai e a mãe da moça, a
pauladas, enquanto o casal dormia.
Os pais eram contra o namoro, ela
não podia ser contrariada, tinha de
ser feliz já, imediatamente, voando, o
jeito foi eliminar os pais. Além de ficar livre deles, dividiria com um irmão os bens do casal, poderia ir morar onde bem entendesse, ser feliz da
maneira que escolhera, na urgência
que a vida lhe impunha, sem esperar
pelo futuro que poderia começar
quando quisesse. Era só dar uma força ao destino -e foi o que ela fez. "Se
tenho de ser feliz, quero ser feliz já!""
O crime horrorizou São Paulo, horrorizou o Brasil. Gente quadrada que
não entende a urgência que o sonho
impõe e que os caretas e bregas -que
somos a maioria- não compreendemos.
Suzane é bonita, matou os pais,
chorou por eles no cemitério e fez o
que podia para ser feliz já. Acabou-se.
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