São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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LULA NOS EUA

O objetivo emergencial da visita de Luiz Inácio Lula da Silva aos Estados Unidos ficou claro: trata-se de tentar, pela via política, convencer alguns agentes-chave do sistema financeiro norte-americano a restabelecer linhas de crédito a empresas brasileiras. É essa carência de divisas financeiras que, em última análise, está na origem da maioria dos problemas que agora se abatem sobre a economia brasileira -a moeda americana, ontem, voltou a fechar no patamar dos R$ 3,80.
Não é um disparate cogitar que Washington tenha interesse numa ajuda desse nível ao Brasil. Vale lembrar que, em 1999, uma viagem aos EUA do então recém-empossado presidente do Banco Central, Armínio Fraga, foi importante para que o crédito externo retornasse mais rapidamente ao Brasil, cujo câmbio, em janeiro daquele ano, passara para o regime flutuante.
Como Armínio, à época, o núcleo político de Lula foi aos EUA referendado por uma recente vitória eleitoral. Mas, à diferença do presidente do BC, ninguém na equipe de Lula possui trânsito fácil nos meios financeiros globais. Por outro lado, a recente modificação na equipe econômica americana tirou de cena o representante de uma ala radical dos republicanos que repudiava ações que tivessem o objetivo de auxiliar financeiramente países em crise.
No final das contas, a disposição do governo Bush de respaldar financeiramente o Brasil -seja através de sua influência no FMI, seja através do convencimento dos agentes financeiros privados- vai depender do grau de propagação e de frustração de interesses americanos atribuído por Washington a uma crise na maior economia sul-americana e, também, do que o governo Lula estará disposto a ceder em troca.
Nesse segundo aspecto residem os maiores riscos para o Brasil. Eles vão desde a adoção de mais arrocho fiscal até a aceitação de uma Alca que dificulte a promoção pelo governo de uma política desenvolvimentista.


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