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Arsenal anticrise
Obama quer que governo gaste no lugar de empresas e famílias, que fogem do consumo para ficar com dinheiro vivo
APESAR de o estouro da
chamada bolha imobiliária americana ter sido longamente antecipado, poucos vaticinavam, até
meados do ano, que uma recessão profunda, de escala global, se
desencadeasse a partir daí. Meses depois, o quadro mudou absolutamente: configura-se um
acervo sombrio de previsões para o próximo ano, em especial em
relação aos Estados Unidos.
De pesquisa feita pela agência
Bloomberg, com meia centena
de reputados economistas americanos, desponta um cenário repleto de recordes negativos. De
acordo com a média das expectativas, o consumo, responsável
por mais de dois terços do PIB
dos EUA, terá a maior queda desde 1942; e a taxa de desemprego
será a mais elevada em 25 anos.
O período de queda da atividade, segundo a pesquisa, superará
o pico de 16 meses, registrado
nas recessões que terminaram
em 1975 e 1982. Nessa contabilidade, restaria a ser batido apenas
o recorde da Grande Depressão
dos anos 1930, quando a economia americana reduziu sua produção durante 43 meses.
Como o consenso anteriormente predominante entre analistas revelou-se equivocado, é
possível que o pessimismo extremado que agora o substitui tampouco se materialize. Mas o fato
é que a economia americana não
cessa de produzir notícias ruins.
O Federal Reserve, o BC daquele país, será obrigado a cortar
sua taxa de juros básica, talvez
para 0,5% ao ano, na reunião da
semana que vem. A decisão poderá ter efeito psicológico positivo, mas na prática influenciará
pouco. Isso porque os juros de
curto prazo do Tesouro americano já não existem.
Na segunda, o governo dos
EUA vendeu dívida que vence
em três meses à taxa de 0,005%
ao ano. Juros tão baixos não
eram registrados nessa operação
desde 1929, quando o papel começou a ser emitido. Um dia depois, o Tesouro conseguiu no
mercado US$ 30 bilhões, trocados por títulos com prazo de quatro semanas e taxa de juros zero.
A corrida aos títulos públicos
de curto prazo indica que as famílias e as empresas evitam o
gasto e a dívida a todo custo. Lutam para ficar com dinheiro vivo
à disposição. Ao agirem todos da
mesma forma, reforçam, com a
recusa ao consumo, os vetores da
recessão e do desemprego.
Na sucessão de remédios que
foram propostos ao longo desta
derrocada, desponta agora a promessa, do presidente eleito Barack Obama, de um gigantesco
pacote de gastos públicos em infra-estrutura. Não basta evitar
corridas bancárias, nem assegurar condições para a circulação
do crédito. Chega-se à conclusão
nos EUA de que o governo precisa realizar, ele próprio, parte dos
gastos que consumidores e empresas se recusam a fazer.
Em poucos meses, foi mobilizado todo o arsenal de medidas
aprendidas, a duras penas e ao
longo de anos, com a crise de
1929. Mais não se conhece.
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