São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

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Arsenal anticrise

Obama quer que governo gaste no lugar de empresas e famílias, que fogem do consumo para ficar com dinheiro vivo

APESAR de o estouro da chamada bolha imobiliária americana ter sido longamente antecipado, poucos vaticinavam, até meados do ano, que uma recessão profunda, de escala global, se desencadeasse a partir daí. Meses depois, o quadro mudou absolutamente: configura-se um acervo sombrio de previsões para o próximo ano, em especial em relação aos Estados Unidos.
De pesquisa feita pela agência Bloomberg, com meia centena de reputados economistas americanos, desponta um cenário repleto de recordes negativos. De acordo com a média das expectativas, o consumo, responsável por mais de dois terços do PIB dos EUA, terá a maior queda desde 1942; e a taxa de desemprego será a mais elevada em 25 anos.
O período de queda da atividade, segundo a pesquisa, superará o pico de 16 meses, registrado nas recessões que terminaram em 1975 e 1982. Nessa contabilidade, restaria a ser batido apenas o recorde da Grande Depressão dos anos 1930, quando a economia americana reduziu sua produção durante 43 meses.
Como o consenso anteriormente predominante entre analistas revelou-se equivocado, é possível que o pessimismo extremado que agora o substitui tampouco se materialize. Mas o fato é que a economia americana não cessa de produzir notícias ruins.
O Federal Reserve, o BC daquele país, será obrigado a cortar sua taxa de juros básica, talvez para 0,5% ao ano, na reunião da semana que vem. A decisão poderá ter efeito psicológico positivo, mas na prática influenciará pouco. Isso porque os juros de curto prazo do Tesouro americano já não existem.
Na segunda, o governo dos EUA vendeu dívida que vence em três meses à taxa de 0,005% ao ano. Juros tão baixos não eram registrados nessa operação desde 1929, quando o papel começou a ser emitido. Um dia depois, o Tesouro conseguiu no mercado US$ 30 bilhões, trocados por títulos com prazo de quatro semanas e taxa de juros zero.
A corrida aos títulos públicos de curto prazo indica que as famílias e as empresas evitam o gasto e a dívida a todo custo. Lutam para ficar com dinheiro vivo à disposição. Ao agirem todos da mesma forma, reforçam, com a recusa ao consumo, os vetores da recessão e do desemprego.
Na sucessão de remédios que foram propostos ao longo desta derrocada, desponta agora a promessa, do presidente eleito Barack Obama, de um gigantesco pacote de gastos públicos em infra-estrutura. Não basta evitar corridas bancárias, nem assegurar condições para a circulação do crédito. Chega-se à conclusão nos EUA de que o governo precisa realizar, ele próprio, parte dos gastos que consumidores e empresas se recusam a fazer.
Em poucos meses, foi mobilizado todo o arsenal de medidas aprendidas, a duras penas e ao longo de anos, com a crise de 1929. Mais não se conhece.


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