São Paulo, sábado, 12 de janeiro de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Morrendo um cônjuge homossexual, é certo dar a guarda do filho dele ao outro cônjuge?

NÃO

A vida é bela

FRANCESCO SCAVOLINI

"A Vida é Bela" é o título do filme com o qual o cineasta e ator italiano Roberto Benigni ganhou, em 2000, o Oscar de melhor filme estrangeiro. O filme conta a história de um pai que, dentro dos horrores de um campo de concentração nazista, faz o impossível para alegrar a vida de seu filho ainda menino, chegando ao ponto extremo de sacrificar a sua própria vida.
Esse é o amor. A vida é bela quando é doação de si mesmo.
Sem querer julgar o íntimo da consciência -que, como afirma o Concílio Vaticano 2º, é o sacrário de toda pessoa humana e a qual só Deus pode julgar-, não nos é, porém, permitido fechar os olhos sobre a vicissitude de Cássia Eller e de seu filho. Cássia tinha fama, dinheiro e sucesso. Tinha, aos olhos da sociedade consumista, tudo o que precisava para ser feliz e para fazer feliz o seu filho.
Porém terminou tragicamente os seus dias sem de fato conseguir corresponder às legítimas exigências de amor de seu próprio filho.
Agora que a Justiça confiou a guarda do filho de Cássia a sua "companheira", homossexual assumida, parece que o calvário do menino vai continuar: não bastam os frutos amargos que ele já saboreou. Sem dúvida existem muitas famílias verdadeiras, disponíveis para receber e eventualmente adotar o filho de Cássia e para doar a ele aquele amor e aquele carinho dos quais tanto precisa.
De fato, enquanto célula fundamental da sociedade, como é definida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, a família merece ser assistida e defendida através de medidas adequadas do Estado e de outras instituições.
A Igreja Católica está fazendo a sua parte. Segundo o papa João Paulo 2º, quando a igreja expõe a verdade sobre o matrimônio e a família, ela o faz tendo em conta também os postulados do direito natural, que estão no fundamento mesmo do verdadeiro bem da própria sociedade e de seus membros.
Com efeito, afirma o papa, não é insignificante para as crianças nascerem e serem educadas em um lar constituído por pais vinculados por meio de uma aliança fiel; aquilo que falta nas convivências não matrimoniais, continua João Paulo 2º, é a abertura recíproca para um futuro a ser vivido em conjunto, que cabe ao amor ativar e fundar e que é tarefa específica do direito de procriar.
Em outras palavras, falta precisamente o direito não na sua dimensão extrínseca normativa, mas na sua autêntica dimensão antropológica de salvaguarda da coexistência humana e de sua dignidade. Além disso, quando as "uniões de fato" reivindicam o direito à adoção, demonstram de maneira clara que ignoram o bem superior da criança e as condições mínimas que lhe são devidas para uma adequada formação.
Enfim, as uniões de fato entre pessoas homossexuais constituem uma deplorável deturpação daquilo que deveria ser a comunhão aberta à vida, pressuposto indispensável para o crescimento sereno e harmonioso dos filhos -citando aqui as palavras do santo padre, durante uma audiência, em Roma, em 4 de junho de 1999.
A vida, no verdadeiro amor, é bela; a transmissão da vida, com verdadeiro amor, é bela; e a geração da vida, pelo verdadeiro amor, é bela. Vamos imaginar por um instante que o nosso planeta fosse povoado só por homens ou só por mulheres: a vida acabaria logo. Não nos deixemos enganar: a vida é bela, a família é bela, Deus é belo!
É preciso e urgente dizer e mostrar isso às novas gerações!


Francesco Scavolini, 46, doutor em jurisprudência pela Universidade de Urbino (Itália), é presidente do Comitê Antonio Di Pietro e membro do Comites (Comitê dos Italianos no exterior) de São Paulo.


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