São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 2003

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GABRIELA WOLTHERS

Fiscalização estratégica

RIO DE JANEIRO - Mal começou seu mandato como governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Garotinho já sente o peso da herança da gestão de seu marido, Anthony Garotinho.
A divulgação de que funcionários da Receita Federal e do governo do Rio de Janeiro depositaram US$ 33,4 milhões em contas na Suíça não só é um caso chocante de corrupção como coloca em xeque toda a fiscalização de empresas no Estado.
Um dos principais acusados não é um funcionário qualquer. Rodrigo Silveirinha Corrêa foi subsecretário de Administração Tributária da Secretaria de Fazenda na gestão de Garotinho. Comandava a Inspetoria de Contribuintes de Grande Porte, responsável pela fiscalização das 400 maiores empresas do Rio. Essas empresas são responsáveis por 75% da arrecadação de ICMS do Estado -recursos que somam cerca de R$ 600 milhões por mês.
Mas ele conseguiu também a confiança de Rosinha. Na campanha da atual governadora, cumpriu a função de assessor econômico. Eleita, ela o nomeou presidente do Conselho de Desenvolvimento Industrial do Estado, responsável exatamente por ajudar empresas que queiram se expandir ou se estabelecer no Estado.
Somente Silveirinha e três outros funcionários do Estado são acusados de remeter ilegalmente para o exterior US$ 30,2 milhões. Isso dá a inacreditável soma de cerca de R$ 100 milhões no câmbio atual.
A suspeita da Polícia Federal é de que o dinheiro tenha sido obtido com a extorsão de empresas que deviam ao fisco. Se apenas quatro funcionários são capazes de captar pelo menos R$ 100 milhões (essa é somente a parte do dinheiro já rastreada na Suíça), não é exagero supor que exista uma máfia em operação no Estado.
Não há provas nem indícios de que Garotinho ou Rosinha tinham conhecimento ou participação nas irregularidades. Mas os dois devem explicações de como alguém numa posição tão estratégica atuou tantos anos sem ser incomodado.



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