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11 DE MARÇO
A ONU qualificou como
"monstruoso" o atentado terrorista de ontem em Madri. A Alemanha classificou-o de "abominável".
O Reino Unido, de "revoltante". E o
papa utilizou o termo "execrável".
Para o Parlamento Europeu, trata-se
do "pior" ato terrorista jamais cometido na União Européia, um ataque
"injustificável" contra a democracia.
A lista dos adjetivos empregados,
que poderia ser complementada por
outros do mesmo quilate, fornece
bem a medida da selvageria e da irracionalidade por trás dos ataques a vagões de trens, que mataram pelo menos 190 pessoas e feriram mais de
1.400. A barbárie teve lugar às vésperas de eleições gerais na Espanha.
Embora nenhuma organização tivesse reivindicado a autoria do massacre, autoridades espanholas foram
rápidas ao atribuí-lo ao terrorismo
separatista do grupo basco ETA.
Contudo, algumas horas depois, foram encontrados, num veículo abandonado, detonadores e uma fita com
uma gravação em árabe de versos do
Alcorão, o que trouxe de volta à consideração a hipótese, prematuramente descartada, de terrorismo islâmico. À noite, um e-mail assumindo responsabilidade pela ação em
nome de grupo ligado à Al Qaeda foi
enviado a um jornal em Londres.
Caso os responsáveis pela chacina
sejam mesmo militantes bascos, o
grupo terá procedido a uma dramática escalada na violência. O ETA já
atacou civis, mas seus alvos prioritários foram políticos e policiais. Muitas vezes, os terroristas avisavam de
suas ações com antecedência. O conceito por trás dos ataques de ontem
seria novo: causar o máximo possível
de vítimas entre civis -uma concepção mais ao estilo da rede Al Qaeda
ou do terror tchetcheno.
A prevalecer a hipótese islâmica, a
novidade não estará no conceito,
mas no teatro de operações. Exceto
pelos atentados do 11 de Setembro,
nos EUA, a rede Al Qaeda não havia
ainda atacado em países do Ocidente. Suas ações contra alvos ocidentais
ocorreram na periferia: Indonésia,
Arábia Saudita, Iraque, Turquia,
Quênia. A Espanha, como entusiástica aliada dos EUA na invasão ao Iraque, tornou-se um objetivo para o
grupo de Osama bin Laden.
Toda ação terrorista é essencialmente covarde e desumana. Ela
transforma civis inocentes em instrumento de chantagem para tentar
atingir desígnios políticos. No caso
do ETA, o caráter pusilânime do terror atinge o paroxismo, pois os propósitos políticos do grupo beiram o
delírio. O país basco que pretendem
"libertar" é uma região rica mesmo
para os padrões europeus e que já
conta com Parlamento e governo autônomos, além de independência
fiscal. Mais do que isso, os separatistas do ETA não contam nem com a
simpatia da própria população. Menos de um terço dos bascos defende
a independência.
Seja quem for que tenha cometido
a atrocidade de ontem, o fato é que,
apesar da guerra ao terrorismo deflagrada pelo presidente George W.
Bush, cujos desmandos merecem
condenação, o mundo ainda está
longe de ver-se livre dessa chaga. Para que um dia atentados como esses
existam apenas nos livros de história, será preciso que a comunidade
internacional, além de intensificar o
combate nas áreas militar e de segurança às organizações terroristas,
consiga desarmar os conflitos políticos que incitam à sua atuação.
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