São Paulo, sexta-feira, 12 de março de 2004

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CONSELHO ECONÔMICO

Mais do mesmo. Em síntese, foi isso o que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu ontem em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Seu discurso, em que pese uma infeliz reprimenda a empresários, teve como principal objetivo conter os ruídos e incertezas que vêm cercando a área econômica.
Tudo começou com a decisão do Banco Central de interromper a trajetória de queda da taxa de juro em janeiro, sob a polêmica justificativa de que pressões para repasses de preços poderiam se generalizar e impedir o cumprimento da meta de inflação, de 5,5%. Em fevereiro, o BC manteve a taxa inalterada, o que estimulou questionamentos, esses sim justificáveis, sobre a adequação da política de metas às necessidades de crescimento do país.
Atingido pelo caso Waldomiro Diniz e pela divulgação de que a economia encolhera 0,2% em 2003, o próprio Executivo tomou a iniciativa de criar fatos: anunciou que pediria ao FMI alterações no sistema de cálculo do superávit das contas públicas, com o intuito de obter mais recursos para investir em infra-estrutura. O balão de ensaio criou a sensação de que o Planalto poderia ceder a pressões contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho -que já havia se oposto a esse tipo de mudança. O próprio Palocci tratou de levantar uma alternativa: o superávit seria anticíclico, ou seja, maior ou menor a depender do ritmo de crescimento.
Essa seqüência de eventos culminou na opereta encenada após a divulgação de nota do PT cobrando mudanças na economia, que levou o presidente do partido, José Genoino, advertido pelo Planalto, a negar o que fora escrito e divulgado.
Natural que, depois de tamanha confusão, o primeiro mandatário procure agora asseverar que não haverá "invenção", que o crescimento fatalmente virá e que é preciso ter paciência com os juros. Uma frase do discurso resume perfeitamente a opção do governo: "Nós estamos apostando na credibilidade."
É em torno dessa assertiva que se trava um embate na área econômica: para os que gostariam de ver mudanças, a aposta na credibilidade, embora compreensível e mesmo necessária inicialmente, converteu-se num fim em si mesmo. A política em vigor seria presa de um paradoxo: quanto mais se empenha em obter a aprovação dos mercados financeiros, mais dá caráter irreversível a opções que condenam o país a uma dinâmica de crescimento medíocre.
O presidente tem razão ao afastar a idéia de um "Plano Lula", se isso significar mais um experimento econômico, como outros do passado, que cria melhorias imediatas e problemas de longo prazo. Estará, no entanto, abdicando dos compromissos de campanha, de fomentar o crescimento, a produção e o emprego, caso seu governo limite-se a reproduzir, de forma ainda mais cautelosa, a política econômica anterior.


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