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CLÓVIS ROSSI
O horror e a incerteza
MADRI - O dia em Madri começou com o horror em estado puro. O mais
violento golpe do terrorismo na Europa, fora a derrubada de um avião da
PanAm sobre Lockerbie (Escócia), já
era duríssimo.
À noite, à dureza somou-se o sabor
amargo da incerteza. Ángel Acebes,
ministro do Interior e, como tal, responsável pela segurança interna, havia pela manhã apontado o dedo
acusador para o grupo terrorista
ETA (Euskadi Ta Askatasuna, ou Pátria Basca e Liberdade), que já matou
800 pessoas na sua irracional luta pela independência do País Basco.
Até a afirmação de Acebes de que a
culpa era do ETA, a Bolsa madrilenha estava caindo bastante, perto
dos 4%, porque sempre havia a possibilidade de que o atentado tivesse sido obra do fantasma que paira sobre
o Ocidente, a Al Qaeda.
Depois, houve alguma melhora,
ainda que, no fim do dia, a queda
fosse razoável (2,2%).
Já por volta de 21h (17h em Brasília), Acebes voltava ao ar com uma
nova informação: em Alcalá de Henares, a cidade de onde partiram os
trens que o terrorismo explodiu em
Madri, a polícia apreendera um furgão, roubado em Madri no mês passado, em cujo banco estavam sete detonadores e, sim, fitas com versículos
do Corão. Pronto, a pista árabe voltava a ganhar credibilidade, embora
Acebes tenha insistido em que a suspeita principal continuava recaindo
sobre o ETA.
É uma cruel ironia que, em meio a
um cenário de horror difícil de descrever, se tenha de torcer para que os
autores tenham sido de fato do ETA.
Se for a Al Qaeda, reabre-se, no dia 11
de março de 2004, a ferida funda cavada em 11 de setembro de 2001 e,
por extensão, o jogo político em todo
o mundo (ou, ao menos, na Europa e
nos Estados Unidos) fica turvado pela "guerra ao terrorismo".
Pior: qualquer um pode ser o próximo alvo, na absurda irracionalidade
do terror.
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