São Paulo, sexta-feira, 12 de março de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O horror e a incerteza

MADRI - O dia em Madri começou com o horror em estado puro. O mais violento golpe do terrorismo na Europa, fora a derrubada de um avião da PanAm sobre Lockerbie (Escócia), já era duríssimo.
À noite, à dureza somou-se o sabor amargo da incerteza. Ángel Acebes, ministro do Interior e, como tal, responsável pela segurança interna, havia pela manhã apontado o dedo acusador para o grupo terrorista ETA (Euskadi Ta Askatasuna, ou Pátria Basca e Liberdade), que já matou 800 pessoas na sua irracional luta pela independência do País Basco.
Até a afirmação de Acebes de que a culpa era do ETA, a Bolsa madrilenha estava caindo bastante, perto dos 4%, porque sempre havia a possibilidade de que o atentado tivesse sido obra do fantasma que paira sobre o Ocidente, a Al Qaeda.
Depois, houve alguma melhora, ainda que, no fim do dia, a queda fosse razoável (2,2%).
Já por volta de 21h (17h em Brasília), Acebes voltava ao ar com uma nova informação: em Alcalá de Henares, a cidade de onde partiram os trens que o terrorismo explodiu em Madri, a polícia apreendera um furgão, roubado em Madri no mês passado, em cujo banco estavam sete detonadores e, sim, fitas com versículos do Corão. Pronto, a pista árabe voltava a ganhar credibilidade, embora Acebes tenha insistido em que a suspeita principal continuava recaindo sobre o ETA.
É uma cruel ironia que, em meio a um cenário de horror difícil de descrever, se tenha de torcer para que os autores tenham sido de fato do ETA. Se for a Al Qaeda, reabre-se, no dia 11 de março de 2004, a ferida funda cavada em 11 de setembro de 2001 e, por extensão, o jogo político em todo o mundo (ou, ao menos, na Europa e nos Estados Unidos) fica turvado pela "guerra ao terrorismo".
Pior: qualquer um pode ser o próximo alvo, na absurda irracionalidade do terror.


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