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CARLOS HEITOR CONY
Silêncio e transparência
RIO DE JANEIRO - Estou achando divertida a cobertura do próximo conclave feita pela mídia internacional.
Tanto a morte como o funeral do papa foram bem expostos, com exagero
em alguns casos, mas a linha geral foi
boa. E é de minha obrigação destacar, não por corporativismo ou por
amizade pessoal, o trabalho de Clóvis
Rossi em Roma. Foi dos melhores que
acompanhei em alguns anos de jornalismo
Morto e sepultado o papa, a atenção da mídia concentra-se agora em
saber quem será eleito para o lugar
de João Paulo 2º: como e por que um
dos cardeais será papa e os outros
não.
Habituados a coberturas de eleições
republicanas, de atos e fatos do universo empresarial, da política internacional, de conflitos e até mesmo de
grandes tragédias, naturais ou não,
os profissionais da informação sentem-se marginalizados: perdem suas
"fontes" e se irritam porque a igreja
impõe silêncio não apenas aos participantes do conclave em si mas àqueles que o preparam e o controlam logisticamente.
A irritação é causada por um equívoco pueril. A igreja tem tempo, modo e ritmo próprios -errando ou
acertando, ela está na sua. Foi assim
que atravessou 20 séculos de história,
façanha que nenhuma outra nação,
império ou instituição conseguiu no
Ocidente.
De uns tempos para cá, a mídia exige dos organismos que de alguma
forma dirigem a sociedade ou parte
dela duas virtudes essenciais: a credibilidade e a transparência. Os cardeais estão se lixando para as duas.
Acertando ou errando, a credibilidade de um conclave é um processo histórico, não depende de seus membros
individualmente.
Tampouco estão ligando para a
transparência. Nunca houve transparência maior do que a do Severino
Cavalcanti. Se ele fosse cardeal, aí,
sim, teríamos novidades.
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