São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

Silêncio e transparência

RIO DE JANEIRO - Estou achando divertida a cobertura do próximo conclave feita pela mídia internacional. Tanto a morte como o funeral do papa foram bem expostos, com exagero em alguns casos, mas a linha geral foi boa. E é de minha obrigação destacar, não por corporativismo ou por amizade pessoal, o trabalho de Clóvis Rossi em Roma. Foi dos melhores que acompanhei em alguns anos de jornalismo
Morto e sepultado o papa, a atenção da mídia concentra-se agora em saber quem será eleito para o lugar de João Paulo 2º: como e por que um dos cardeais será papa e os outros não.
Habituados a coberturas de eleições republicanas, de atos e fatos do universo empresarial, da política internacional, de conflitos e até mesmo de grandes tragédias, naturais ou não, os profissionais da informação sentem-se marginalizados: perdem suas "fontes" e se irritam porque a igreja impõe silêncio não apenas aos participantes do conclave em si mas àqueles que o preparam e o controlam logisticamente.
A irritação é causada por um equívoco pueril. A igreja tem tempo, modo e ritmo próprios -errando ou acertando, ela está na sua. Foi assim que atravessou 20 séculos de história, façanha que nenhuma outra nação, império ou instituição conseguiu no Ocidente.
De uns tempos para cá, a mídia exige dos organismos que de alguma forma dirigem a sociedade ou parte dela duas virtudes essenciais: a credibilidade e a transparência. Os cardeais estão se lixando para as duas. Acertando ou errando, a credibilidade de um conclave é um processo histórico, não depende de seus membros individualmente.
Tampouco estão ligando para a transparência. Nunca houve transparência maior do que a do Severino Cavalcanti. Se ele fosse cardeal, aí, sim, teríamos novidades.


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