São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Por uma campanha educativa

Na última quinta-feira, os quatro presidenciáveis compareceram à Confederação Nacional da Indústria, em Brasília, para dizer o que pensam a respeito das principais preocupações do setor produtivo brasileiro.
Na verdade, essas preocupações têm enormes desdobramentos sociais. O Brasil precisa gerar empregos e renda para seus trabalhadores e, ao mesmo tempo, modernizar os seus métodos de produzir e de vender para, com isso, competir com sucesso em uma economia que se globaliza cada vez mais.
Naquele evento, os pré-candidatos tocaram uma melodia em uníssono. Todos são a favor de todas as reformas. Falou-se da necessidade de baixar os juros, de melhorar a infra-estrutura, de estimular as exportações, de ampliar o mercado interno, de simplificar a burocracia e de tantas outras medidas que, se forem tomadas em conjunto, colocarão o Brasil na posição que ele merece.
Lendo o resumo do debate, lembrei-me de uma conversa que tive em 1994 com Roger Douglas, que foi ministro da Fazenda da Nova Zelândia. Naquela época, ele estava organizando um novo partido em defesa dos consumidores e dos contribuintes -que tomou corpo em 1996.
Hoje, esse partido detém nove cadeiras no Parlamento. O seu objetivo básico é o de controlar o populismo dos candidatos na época das eleições. Por via de um consenso, estabeleceu-se uma regra para as campanhas eleitorais segundo a qual, toda vez que um candidato diz na televisão, por exemplo, que vai gerar 200 mil empregos sem dizer "como", os demais candidatos adquirem o direito de ir à mesma TV e usar o tempo do primeiro para indagar de que maneira será atingido aquele objetivo.
Ou seja, quem promete tem de explicar ao povo, tintim por tintim, como sua promessa será concretizada. Com o tempo, os eleitores vão-se educando e exigindo dos candidatos uma explicação para distinguir falsas promessas de projetos realizáveis.
Esse mecanismo cria um autocontrole do populismo. O sistema tende a levar os candidatos a evitar promessas absurdas. E também promessas vagas. A taxa de demagogia vai declinando na mesma medida em que a educação do eleitor vai subindo.
Os candidatos também se educam e ficam cada vez mais cautelosos. Ninguém quer perder seu tempo de TV no dia seguinte devido a uma promessa impensada no dia anterior.
Como a campanha aqui no Brasil ainda não começou, que tal se, mesmo sem lei, os candidatos fizessem um pacto de seguir essa regra? Assim, toda vez que um candidato dissesse "vou reduzir os juros", ele teria de explicar ao povo quais as medidas que tomaria para chegar a esse objetivo. O seu adversário poderia criticá-las, mas, em seu lugar, teria de propor outras. E, com isso, formar-se-ia uma bola-de-neve de conhecimentos para o povo sair da jornada eleitoral mais bem informado do que entrou. Seria um belo esforço em prol de uma campanha mais educativa.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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