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São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Dirigismo e oportunismo

RIO DE JANEIRO - Semana passada, comentei aqui neste canto de página o dirigismo cultural que parte dos cineastas nacionais denunciaram. Um recurso fascista, sem dúvida, impróprio para o governo com as características democráticas do atual. Ainda bem que as autoridades do setor voltaram atrás, liberando os critérios de financiamento para as obras artísticas e culturais.
Contudo a maioria deles, alguns históricos, como Nelson Pereira dos Santos, Walter Lima Jr., Luiz Fernando de Carvalho e outros, lançou manifesto contra o recuo do governo, não a favor do dirigismo cultural, mas contra o lobby que parte dos cineastas exercem no governo e na mídia.
É lamentável que o cinema, o teatro e a quase totalidade dos eventos culturais não se paguem pelas leis do mercado, pela bilheteria, necessitando de dinheiro que vem diretamente do governo ou de empresas que dependem de uma forma ou outra do dinheiro público.
Não importa se os recursos oficiais beneficiam obras-primas ou medíocres. Neste particular, aprecio a luta dos editores que, com exceções de encomendas governamentais para livros didáticos ou paradidáticos, bancam suas edições com o suado dinheiro da venda nas livrarias, que equivale à bilheteria dos teatros e cinemas, nelas deixando parte do pequeno lucro.
Um ou outro livro pode receber patrocínio pela própria natureza do produto, principalmente no setor das biografias. Mas a literatura em geral vive e sobrevive do mercado. Não conheço um só romance, um livro de contos ou poesia, que tenha recebido financiamento. E muitos deles são bancados pelo próprio autor.
Drummond pagou a primeira edição de seus poemas. Sessenta anos depois é que o Bradesco publicou em dois volumes sua obra poética completa, que me parece estar fora do mercado, sendo distribuída como brinde.


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