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CARLOS HEITOR CONY
Dirigismo e oportunismo
RIO DE JANEIRO - Semana passada, comentei aqui neste canto de página
o dirigismo cultural que parte dos cineastas nacionais denunciaram. Um
recurso fascista, sem dúvida, impróprio para o governo com as características democráticas do atual. Ainda
bem que as autoridades do setor voltaram atrás, liberando os critérios de
financiamento para as obras artísticas e culturais.
Contudo a maioria deles, alguns
históricos, como Nelson Pereira dos
Santos, Walter Lima Jr., Luiz Fernando de Carvalho e outros, lançou manifesto contra o recuo do governo,
não a favor do dirigismo cultural,
mas contra o lobby que parte dos cineastas exercem no governo e na mídia.
É lamentável que o cinema, o teatro
e a quase totalidade dos eventos culturais não se paguem pelas leis do
mercado, pela bilheteria, necessitando de dinheiro que vem diretamente
do governo ou de empresas que dependem de uma forma ou outra do
dinheiro público.
Não importa se os recursos oficiais
beneficiam obras-primas ou medíocres. Neste particular, aprecio a luta
dos editores que, com exceções de encomendas governamentais para livros didáticos ou paradidáticos, bancam suas edições com o suado dinheiro da venda nas livrarias, que
equivale à bilheteria dos teatros e cinemas, nelas deixando parte do pequeno lucro.
Um ou outro livro pode receber patrocínio pela própria natureza do
produto, principalmente no setor das
biografias. Mas a literatura em geral
vive e sobrevive do mercado. Não conheço um só romance, um livro de
contos ou poesia, que tenha recebido
financiamento. E muitos deles são
bancados pelo próprio autor.
Drummond pagou a primeira edição de seus poemas. Sessenta anos
depois é que o Bradesco publicou em
dois volumes sua obra poética completa, que me parece estar fora do
mercado, sendo distribuída como
brinde.
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