São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

O país dos milhões

BRASÍLIA - Tudo no Brasil é espetacular e grandioso, basta ver a pujante foto de Marlene Bergamo ontem na capa da Folha, com aquela massa de milhões de pessoas na Parada Gay da avenida Paulista.
Nada é modesto, tudo é contado aos milhões: na Parada Gay, na visita do papa, nos encontros evangélicos, nos desvios políticos, na corrupção, nas estatísticas, no desemprego, na miséria. E, como se contam os desvios em milhões de reais ou de dólares, contam-se os implicados e presos às dezenas. Mas nada muda. Num mês fora, e descontando-se as notícias do papa, só era possível saber que a operação X da Polícia Federal havia prendido 50 poderosos, uma nova operação Y havia prendido mais 60, e outra operação Z tinha prendido mais 40.
Ninguém consegue lembrar o nome da operação da semana passada, nem do mês passado, quanto mais a do ano passado. O país vai acabar "comemorando" seu primeiro milhão de presos ilustres, mas são presos de horas, de dias, que saem das prisões, das páginas e dos telejornais de fininho, à francesa, prontos para outra. Logo voltam, lépidos, fagueiros e... eleitos.
A sensação é de que o importante são os números, as dezenas de presos, os milhões desviados, sem conseqüência. Na soma, na multiplicação e na divisão, o que sobra é que as prisões estão sendo banalizadas (afinal, quem ainda não foi preso?) e a impunidade continua igualzinha. O que aconteceu com os indiciados da PF, os apontados pelas CPIs, os denunciados pelo Ministério Público, os réus da Justiça? Os escândalos são tantos, os escandalosos são tão disseminados, os valores tão astronômicos. Mas estão virando parte do dia-a-dia.
Não se usa o "grampo" com parcimônia, não se preserva o constrangimento que significa -ou significava- uma prisão e nem se acaba de fato com a impunidade. Tudo parece tão corriqueiro que dá pena.
Pena do país dos milhões.


elianec@uol.com.br

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