São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 2002

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O LUGAR DAS HUMANAS

Já completou mais de 70 dias a greve dos alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo. O próprio governador do Estado, Geraldo Alckmin, depois de interpelado pelos grevistas, decidiu interceder em favor da continuidade das negociações com a reitoria.
Os alunos reivindicam a contratação de 259 novos professores para a FFLCH. A reitoria oferece 91 até 2004. Ninguém contesta a carência de docentes, o que já levou à criação de turmas com mais de 200 alunos. Se existe bom senso no mundo, ele sugere que, num ponto intermediário entre as duas posições, deverá haver uma solução satisfatória.
A atual crise deve servir para que se reflita sobre algumas das dificuldades experimentadas pelas ciências humanas nos últimos anos. Parte do problema tem a ver com uma crise de paradigmas. Os constrangimentos orçamentários da universidade pública fizeram com que as agências de fomento à pesquisa adquirissem importância crescente. Essas agências acabaram impondo às humanas um padrão de pesquisa e de avaliação típico das ciências empíricas, como a física ou a química.
Com os professores das humanas se dedicando cada vez mais à pós-graduação, os problemas acabaram estourando do lado mais fraco -a graduação. Esta, diferentemente da pós-graduação, depende quase que exclusivamente de recursos da própria universidade, sem a complementação das agências de fomento.
Qualquer que seja o desfecho da greve, é preciso repensar o lugar das humanas na USP, encontrando algum meio de revalorizar o ensino básico, que é fornecido na graduação. Sem que se encontre um novo equilíbrio entre a docência e a pesquisa, o sistema estará fornecendo à pós-graduação -e também ao mercado de trabalho- pessoas com formação deficiente, o que configura um evidente absurdo.


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