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O LUGAR DAS HUMANAS
Já completou mais de 70 dias a
greve dos alunos da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da Universidade de São
Paulo. O próprio governador do Estado, Geraldo Alckmin, depois de interpelado pelos grevistas, decidiu interceder em favor da continuidade
das negociações com a reitoria.
Os alunos reivindicam a contratação de 259 novos professores para a
FFLCH. A reitoria oferece 91 até 2004.
Ninguém contesta a carência de docentes, o que já levou à criação de turmas com mais de 200 alunos. Se
existe bom senso no mundo, ele sugere que, num ponto intermediário
entre as duas posições, deverá haver
uma solução satisfatória.
A atual crise deve servir para que se
reflita sobre algumas das dificuldades experimentadas pelas ciências
humanas nos últimos anos. Parte do
problema tem a ver com uma crise de
paradigmas. Os constrangimentos
orçamentários da universidade pública fizeram com que as agências de
fomento à pesquisa adquirissem importância crescente. Essas agências
acabaram impondo às humanas um
padrão de pesquisa e de avaliação típico das ciências empíricas, como a
física ou a química.
Com os professores das humanas
se dedicando cada vez mais à pós-graduação, os problemas acabaram
estourando do lado mais fraco -a
graduação. Esta, diferentemente da
pós-graduação, depende quase que
exclusivamente de recursos da própria universidade, sem a complementação das agências de fomento.
Qualquer que seja o desfecho da
greve, é preciso repensar o lugar das
humanas na USP, encontrando algum meio de revalorizar o ensino básico, que é fornecido na graduação.
Sem que se encontre um novo equilíbrio entre a docência e a pesquisa, o
sistema estará fornecendo à pós-graduação -e também ao mercado de
trabalho- pessoas com formação
deficiente, o que configura um evidente absurdo.
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