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LAÇOS DE FAMÍLIA
O histórico de boa vontade
do governo Lula com a sistemática violação de direitos humanos
em Cuba ganhou seu mais espetacular capítulo com as declarações do
embaixador brasileiro em Havana.
Em passagem por Brasília para organizar a viagem que o presidente fará à ilha caribenha em setembro, Tilden Santiago afirmou anteontem
que, ao ordenar uma onda de repressão em abril passado, o ditador Fidel
Castro apenas reagiu "a um risco
muito grande de os Estados Unidos
promoverem uma sangria migratória incontrolada que viesse a desestabilizar o Estado cubano".
Para o embaixador, a execução de
três dissidentes que sequestraram
um barco para fugir do país deve ser
encarada "como uma espécie de
acontecimento muito familiar, coisa
que acontece em família". E completou: "A gente se sente constrangido
quando existem alguns pontos dos
quais a gente discorda". Em sua opinião, mais grave do que as execuções
sumárias é a existência da pena de
morte em países "como os Estados
Unidos e a Nigéria".
Não bastasse a leniência, Santiago
encontrou espaço para ser também
ameaçador. Segundo ele, "se vierem
querer desestabilizar o Lula, nós
também teremos que tomar medidas aqui". Não foi esclarecido quem
responde por "nós" e a que "medidas" se referia o embaixador.
As declarações de Santiago, reveladoras de miopia analítica e despreparo para a função que exerce, vem se
somar à abstenção do Brasil na votação da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas que condenou as perseguições políticas conduzidas em Cuba, omissão duramente
criticada -com razão- pela comunidade internacional.
O governo do PT segue permitindo
que os laços históricos de algumas
de suas lideranças com Fidel Castro
se traduzam em uma política externa
que prega a aceitação das barbaridades cometidas pelo regime cubano.
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