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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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LAÇOS DE FAMÍLIA

O histórico de boa vontade do governo Lula com a sistemática violação de direitos humanos em Cuba ganhou seu mais espetacular capítulo com as declarações do embaixador brasileiro em Havana.
Em passagem por Brasília para organizar a viagem que o presidente fará à ilha caribenha em setembro, Tilden Santiago afirmou anteontem que, ao ordenar uma onda de repressão em abril passado, o ditador Fidel Castro apenas reagiu "a um risco muito grande de os Estados Unidos promoverem uma sangria migratória incontrolada que viesse a desestabilizar o Estado cubano".
Para o embaixador, a execução de três dissidentes que sequestraram um barco para fugir do país deve ser encarada "como uma espécie de acontecimento muito familiar, coisa que acontece em família". E completou: "A gente se sente constrangido quando existem alguns pontos dos quais a gente discorda". Em sua opinião, mais grave do que as execuções sumárias é a existência da pena de morte em países "como os Estados Unidos e a Nigéria".
Não bastasse a leniência, Santiago encontrou espaço para ser também ameaçador. Segundo ele, "se vierem querer desestabilizar o Lula, nós também teremos que tomar medidas aqui". Não foi esclarecido quem responde por "nós" e a que "medidas" se referia o embaixador.
As declarações de Santiago, reveladoras de miopia analítica e despreparo para a função que exerce, vem se somar à abstenção do Brasil na votação da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas que condenou as perseguições políticas conduzidas em Cuba, omissão duramente criticada -com razão- pela comunidade internacional.
O governo do PT segue permitindo que os laços históricos de algumas de suas lideranças com Fidel Castro se traduzam em uma política externa que prega a aceitação das barbaridades cometidas pelo regime cubano.


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