São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

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Editoriais

Incerteza em alta

Menor apetite pelo risco configura formação da quarta onda da crise global, que já atinge com força o mundo rico

AS PRINCIPAIS Bolsas de Valores mundiais amargaram pesadas perdas. Várias delas entraram no chamado "bear market" ("mercado do urso", jargão para onda pessimista) após caírem 20% do valor máximo. Quase um ano após os primeiros fatos que desencadearam a crise das hipotecas americanas de alto risco, a incerteza voltou a contaminar o humor dos investidores.
Em junho de 2007, o Bear Stearns foi forçado a fechar dois fundos de investimento diante de dificuldades para vender ativos relacionados com as hipotecas americanas. Em seguida, as agências de classificação de risco começaram a rebaixar diversos papéis, desencadeando a primeira rodada de ruptura do mercado interbancário internacional.
Em dezembro de 2007, a perspectiva de vultosas perdas serem registradas pelos balanços bancários resultou na segunda onda, exigindo uma intervenção conjunta de vários bancos centrais, sob a liderança do Fed, nos EUA. Em meados de março de 2008, diante da insolvência do Bear Stearns e de outros fundos de investimento, houve a terceira fase da crise.
No período, as perdas declaradas pelos bancos globais são estimadas em US$ 387 bilhões. Para atender às exigências de capital, várias instituições solicitaram aportes aos acionistas ou captaram novos recursos com investidores, inclusive entre fundos soberanos dos países asiáticos. Estima-se que os bancos tenham captado US$ 266,5 bilhões para reorganizar seus balanços.
Com o fim do segundo trimestre, as expectativas em torno de novas perdas ampliam a aversão ao risco, sinalizando uma quarta onda da crise. O alarme foi acionado com a projeção de que as agências americanas Freddie Mac e Fannie Mae, ligadas ao mercado imobiliário, teriam de captar US$ 75 bilhões para equilibrar seu balanço.
Ademais, a reorganização das finanças bancárias força uma redução da oferta de empréstimos. Tal movimento, associado ao "efeito pobreza" proveniente da desvalorização dos ativos -imóveis e ações-, repercute sobre o consumo e o investimento.
Os países industrializados já dão sinais evidentes de retração. A economia americana fechou 62 mil postos de trabalho em junho, processo que vem se repetindo pelo sexto mês consecutivo -cenário que se deteriora com a alta nos preços de alimentos e petróleo. No Japão, que viveu longo período de deflação após o estouro da bolha de ações e de imóveis em 1990, os preços no atacado tiveram alta de 5,6% em 12 meses. Essas pressões inflacionárias exigirão aperto nos juros básicos, baixando a perspectiva de crescimento mundial.
Desse modo a crise que começou no mercado de hipotecas dos Estados Unidos se espraia e atinge a produção e o emprego. A digestão dos excessos do ciclo de euforia exigirá tempo e sacrifício de todos os países.


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