|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
Incerteza em alta
Menor apetite pelo risco configura formação da quarta onda da crise global, que já atinge
com força o mundo rico
AS PRINCIPAIS Bolsas de
Valores mundiais
amargaram pesadas
perdas. Várias delas
entraram no chamado "bear
market" ("mercado do urso", jargão para onda pessimista) após
caírem 20% do valor máximo.
Quase um ano após os primeiros
fatos que desencadearam a crise
das hipotecas americanas de alto
risco, a incerteza voltou a contaminar o humor dos investidores.
Em junho de 2007, o Bear
Stearns foi forçado a fechar dois
fundos de investimento diante
de dificuldades para vender ativos relacionados com as hipotecas americanas. Em seguida, as
agências de classificação de risco
começaram a rebaixar diversos
papéis, desencadeando a primeira rodada de ruptura do mercado
interbancário internacional.
Em dezembro de 2007, a perspectiva de vultosas perdas serem
registradas pelos balanços bancários resultou na segunda onda,
exigindo uma intervenção conjunta de vários bancos centrais,
sob a liderança do Fed, nos EUA.
Em meados de março de 2008,
diante da insolvência do Bear
Stearns e de outros fundos de investimento, houve a terceira fase
da crise.
No período, as perdas declaradas pelos bancos globais são estimadas em US$ 387 bilhões. Para
atender às exigências de capital,
várias instituições solicitaram
aportes aos acionistas ou captaram novos recursos com investidores, inclusive entre fundos soberanos dos países asiáticos. Estima-se que os bancos tenham
captado US$ 266,5 bilhões para
reorganizar seus balanços.
Com o fim do segundo trimestre, as expectativas em torno de
novas perdas ampliam a aversão
ao risco, sinalizando uma quarta
onda da crise. O alarme foi acionado com a projeção de que as
agências americanas Freddie
Mac e Fannie Mae, ligadas ao
mercado imobiliário, teriam de
captar US$ 75 bilhões para equilibrar seu balanço.
Ademais, a reorganização das
finanças bancárias força uma redução da oferta de empréstimos.
Tal movimento, associado ao
"efeito pobreza" proveniente da
desvalorização dos ativos -imóveis e ações-, repercute sobre o
consumo e o investimento.
Os países industrializados já
dão sinais evidentes de retração.
A economia americana fechou
62 mil postos de trabalho em junho, processo que vem se repetindo pelo sexto mês consecutivo -cenário que se deteriora
com a alta nos preços de alimentos e petróleo. No Japão, que viveu longo período de deflação
após o estouro da bolha de ações
e de imóveis em 1990, os preços
no atacado tiveram alta de 5,6%
em 12 meses. Essas pressões inflacionárias exigirão aperto nos
juros básicos, baixando a perspectiva de crescimento mundial.
Desse modo a crise que começou no mercado de hipotecas dos
Estados Unidos se espraia e atinge a produção e o emprego. A digestão dos excessos do ciclo de
euforia exigirá tempo e sacrifício
de todos os países.
Próximo Texto: Editoriais: Concurso de gastos
Índice
|