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IGOR GIELOW
Fla-Flu
BRASÍLIA - Infelizmente, um debate extremamente importante para o país vai virando, como tantos
outros, um Fla-Flu. Ou Gilmar
Mendes, presidente do Supremo
Tribunal Federal, é um juiz leniente com corruptos, ou é um austero
defensor de direitos. Ou a Polícia
Federal é um órgão incontrolável e
politicamente orientado, ou um
braço armado do republicanismo.
Comecemos por Mendes. Ele é
visto, nos meios governistas, como
um ministro "tucano". Isso já traz
uma série de narizes federais torcidos contra si. Some-se a isso as insinuações na investigação da PF a seu
respeito. Num grampo, investigados falam sobre supostas facilidades em tribunais superiores. Noutro, a irmã de Daniel Dantas se refere a um amigo de Mendes.
Suspeito? No primeiro caso, pode
ser qualquer coisa, inclusive nada.
No segundo, o amigo em questão é
um advogado do Opportunity que
conhecia Mendes e diz que tratou
do habeas corpus do seu cliente. Se
foi isso, é corriqueiro.
O que não tira a polêmica de seus
atos. A intransigência apresentada
por Mendes para libertar Dantas
pela segunda vez, falando em insurreição do juiz de primeira instância
contra sua decisão anterior, demanda análise especializada. Se
não havia provas concretas contra
Dantas no primeiro pedido, no segundo a caracterização do suborno
ao delegado federal por associados
do banqueiro parece clara a olhos
leigos. Debater se isso faz Dantas
merecer cana é lícito.
Sobre a PF, fica claro que o delegado incorreu em heterodoxias investigativas. Isso para não falar dos
absurdos, como a vontade de prender a repórter que havia "furado" a
operação alegando banalidades.
Mas tampouco é inteligente descartar o trabalho como um todo por
causa de suas falhas.
Até porque, enquanto o debate
for encarniçado, quem ganha é
aquele cujo papel central no caso
precisa de esclarecimento: Daniel
Dantas.
igielow@folhasp.com.br
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