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CLÓVIS ROSSI
Espetáculo sem pedagogia
OSAKA - Se já é difícil acompanhar, no Brasil, o prende-solta-prende de Daniel Dantas e demais
famosos atingidos pela Operação
Satiagraha, imagine do outro lado
do mundo, com 12 horas de diferença horária (12 horas a mais aqui).
Escrevo à noite (aqui), mas de manhã (aí) e, portanto, há um dia inteiro para que o banqueiro e seus companheiros sejam soltos ou presos,
dependendo da situação em que
amanheceram aí.
Essa diferença horária torna até
engraçada a chiadeira de leitores
que ora atacam a Justiça, ora a Polícia Federal, quando uma prende e a
outra solta Dantas (ou vice-versa),
porque, quando é minha hora de ler
a chiadeira, ela já foi atropelada pela prisão ou pela liberação do indigitado. À chamada "espetacularização" das ações da Polícia Federal
corresponde a, digamos, "aceleração" da Justiça, ainda mais que
Dantas não tem direito a foro especial que lhe permitiria recorrer diretamente ao Supremo.
Bem feitas as contas, tudo no Brasil tende ao espetáculo, o que não é
necessariamente ruim. Ruim mesmo é o fato de que o espetáculo termina nele mesmo, sem produzir
efeitos pedagógicos.
No caso específico de Daniel
Dantas, por exemplo, passou completamente batido o fato de que ele
foi beneficiado por uma flagrante
ilegalidade autorizada -e até estimulada pelo governo federal. Refiro-me à venda da BrT (Brasil Telecom) para a Oi (antiga Telemar).
Foi feita contra a lei, mas na certeza
de que a lei seria modificada.
Dantas, diz a Folha, receberá
mais de US$ 1 bilhão pelo negócio
ilegal. Dessa bolada, já faturou R$
139 milhões, devidamente transferidos (também ilegalmente) para o
exterior.
Para o meu gosto, "espetáculo"
mesmo seria, primeiro, o governo
ser o principal guardião da lei, vetando e não estimulando negócios
ilegais; segundo, pegar o dinheiro
de volta. É mais pedagógico.
crossi@uol.com.br
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