São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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DÓLAR-SANGUE

O corpo humano reage ao frio dirigindo o sangue para suas áreas vitais e centrais. O mesmo pode ocorrer numa economia dependente que entra em crise.
Os dólares fazem o papel do sangue. Além das transfusões (como o pacote do FMI), é preciso centralizar a energia nas áreas vitais, entre as quais se destaca o comércio exterior.
O choque externo pode levar o governo a centralizar as decisões de crédito a exportações. Afinal, o dólar escasso deve ser bem empregado. O governo examina a opção de centralizar essas operações no BNDES.
Em tese, os recursos oferecidos pelo FMI serviriam para restaurar o crédito externo, trazendo os bancos de volta ao mercado. No entanto, além da incerteza brasileira, há uma aversão ao risco generalizada no sistema financeiro internacional.
A combinação do risco local com a precaução global pode impedir uma recuperação plena das linhas interbancárias mesmo no segmento de financiamento ao comércio exterior, que geralmente fica à margem das turbulências nos nichos mais especulativos dos mercados de capitais.
Nesse contexto, é urgente apoiar exportadores e privilegiar setores capazes de substituir importações.
Aliás, já há US$ 1 bilhão em dinheiro novo oferecido ao Brasil pelo BID para financiar exportações.
Parte dos dólares liberados pelo acordo com o FMI serve para atender à demanda que vem de empresas e bancos que precisam honrar compromissos financeiros. São recursos que saem sem que se saiba quando poderão voltar (não há clareza sobre quando e em que condições empresas e bancos brasileiros voltarão a se endividar no exterior).
Outra parte dos dólares pode ser usada com inteligência e parcimônia para estimular setores capazes de trazer mais moeda forte ao país.
Além de irrigar setores produtivos, o crédito ao comércio exterior é um meio mais seguro de fazer com que o paciente dependa menos de transfusões caras e cada vez mais raras.



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