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ILUSÃO DE DIVISAS
"Desenvolveu-se no Brasil
uma "ilusão de divisas". O
governo aparentemente tomou como dados de um novo ordenamento
o que eram, efetivamente, desenvolvimentos bastante excepcionais em
nível internacional, tanto do comércio quanto das finanças." Essa crítica, que se adapta quase perfeitamente para detectar a principal falha do
modelo econômico que prevaleceu
no Brasil nos anos 90, foi escrita em
meados da década de 1980.
Os seus autores tratavam, então, de
identificar o erro palmar da condução econômica do regime militar:
supor que uma economia dependente como o Brasil poderia endividar-se
no exterior indefinidamente. Os seus
autores são duas pessoas que tiveram papel fundamental na formulação e na condução, anos depois, do
Real: Pedro Malan e Edmar Bacha.
A sensação que fica, a de que "nós,
brasileiros, em vez de aprendermos a
nos defender no cenário internacional, desaprendemos", foi muito bem
expressa pelo ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, em artigo que esta Folha publicou na quarta-feira da
semana passada. E Bresser ia mais
longe no tempo, mencionando uma
carta de 1923, citada em coluna do
jornalista Elio Gaspari, em que o presidente Arthur Bernardes dava instruções a seu chanceler para dissipar
um movimento especulatório contra
o crédito externo ao Brasil.
A ilusão de que o regime de expansão cíclica que marca o capitalismo
havia sido superado não prosperou
apenas no Brasil, na década passada.
A sua mais conhecida formulação,
nos EUA, foi a suposta teoria da "nova economia": expansão constante
do capital lastreada num aumento
constante da produtividade, esta, por
sua vez, associada a uma espécie de
revolução tecnológica permanente.
Mas isso não pode servir de desculpa para o Brasil ter novamente cometido um erro gigantesco de inserção
externa. Deve demorar um tempo até
que ocorra um novo surto de expansão do capitalismo. Até lá, se a elite
brasileira mantiver viva a memória
da atual débâcle e de sua explicação
fundamental, já terá havido um avanço. Afinal, os críticos de hoje podem
estar no governo amanhã.
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