São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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ILUSÃO DE DIVISAS

"Desenvolveu-se no Brasil uma "ilusão de divisas". O governo aparentemente tomou como dados de um novo ordenamento o que eram, efetivamente, desenvolvimentos bastante excepcionais em nível internacional, tanto do comércio quanto das finanças." Essa crítica, que se adapta quase perfeitamente para detectar a principal falha do modelo econômico que prevaleceu no Brasil nos anos 90, foi escrita em meados da década de 1980.
Os seus autores tratavam, então, de identificar o erro palmar da condução econômica do regime militar: supor que uma economia dependente como o Brasil poderia endividar-se no exterior indefinidamente. Os seus autores são duas pessoas que tiveram papel fundamental na formulação e na condução, anos depois, do Real: Pedro Malan e Edmar Bacha.
A sensação que fica, a de que "nós, brasileiros, em vez de aprendermos a nos defender no cenário internacional, desaprendemos", foi muito bem expressa pelo ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, em artigo que esta Folha publicou na quarta-feira da semana passada. E Bresser ia mais longe no tempo, mencionando uma carta de 1923, citada em coluna do jornalista Elio Gaspari, em que o presidente Arthur Bernardes dava instruções a seu chanceler para dissipar um movimento especulatório contra o crédito externo ao Brasil.
A ilusão de que o regime de expansão cíclica que marca o capitalismo havia sido superado não prosperou apenas no Brasil, na década passada. A sua mais conhecida formulação, nos EUA, foi a suposta teoria da "nova economia": expansão constante do capital lastreada num aumento constante da produtividade, esta, por sua vez, associada a uma espécie de revolução tecnológica permanente.
Mas isso não pode servir de desculpa para o Brasil ter novamente cometido um erro gigantesco de inserção externa. Deve demorar um tempo até que ocorra um novo surto de expansão do capitalismo. Até lá, se a elite brasileira mantiver viva a memória da atual débâcle e de sua explicação fundamental, já terá havido um avanço. Afinal, os críticos de hoje podem estar no governo amanhã.



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