|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BORIS FAUSTO
O acordo e os candidatos
O acordo firmado entre o Brasil e o FMI é altamente positivo, desde que o
analisemos dentro do contexto e não nos dediquemos a examiná-lo em
abstrato. Chovendo no molhado, lembro alguns pontos essenciais: o volume dos recursos obtidos; a manutenção do nível de compromisso de superávit primário, correspondente a
3,75% do PIB; a redução do piso de reservas que o país se obriga a manter.
Ao mesmo tempo, convém ressaltar
que o acordo não é um presente de Papai Noel no mês de agosto, pondo fim
aos nossos problemas econômico-financeiros. Ele representa, isso sim,
uma ferramenta importante para a
condução menos tempestuosa da política financeira do país.
Na explicação de um ajuste que até
há alguns dias parecia difícil e, nas
condições obtidas, impossível, a
maioria dos analistas tendeu a acentuar a reviravolta no comportamento
do governo Bush e do FMI. Sem dúvida, eles têm razão em dizer que, por
fim, o governo americano despertou
para o risco sistêmico, existente em toda a América Latina, acabando por
descobrir que a região não se limita ao
vizinho México e à conflagrada Colômbia.
No caso, não se trata apenas de proteger os interesses das corporações
americanas -o que obviamente não
é pouco-, mas de cortar um rastilho
de pólvora ainda mais abrangente.
Ao acentuar essa dimensão, devemos ressaltar também que oito anos
de um governo responsável, não vergado aos interesses externos -as
duas dimensões são compatíveis-, e
o papel preponderante desempenhado pelo presidente Fernando Henrique nas negociações foram vitais para
que se chegasse a um resultado positivo.
Como o ajuste prevê desembolsos
muito maiores após a eleição do novo
presidente da República, que, para
tanto, deverá respeitá-lo, torna-se vital
analisar a reação explícita dos candidatos.
Por motivos diametralmente opostos, não há muito o que discutir nas
reações de Serra e Garotinho. Serra,
como seria de se esperar, apóia com
todas as letras o acordo e anuncia a
manutenção de Armínio Fraga na
presidência do Banco Central, caso seja eleito; Garotinho dedica-se à retórica de sempre de um populismo anacrônico.
Quanto a Lula e o PT, é preciso reconhecer que sua atitude foi, em linhas
gerais, responsável, situando-se nos limites de uma oposição que, sem deixar de ser oposição, dá sinais de perceber o que seja o interesse nacional em
momentos de crise.
Infelizmente, o mesmo não se pode
dizer do candidato Ciro Gomes. Seu
comportamento representa mais um
preocupante exemplo do que poderá
significar sua eventual vitória nas eleições de outubro. Navegou e provavelmente continuará navegando num
mar de ambiguidades, entre a crítica
irresponsável ao acordo e a aparência
de um ""meia-volta volver", diante
dos estragos que suas declarações
imediatamente provocaram.
Essa atitude é tanto mais estranhável
quando, conversando com seus botões, Ciro Gomes bem sabe que, sem
acordo, o eleito -seja ele quem for-
herdaria um quadro infinitamente
mais grave do que o atual.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O tédio da sucessão Próximo Texto: Frases Índice
|