São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2000

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ELIANE CANTANHÊDE

Malan esconde o ouro?

BRASÍLIA - O Ministério da Fazenda cuida dessas coisas de encanador: fontes, ajustes, torneiras e tesouras. Solda daqui, corta dali, pode ser devastador para a área social, mas não tem a ver diretamente com ela.
Pedro Malan, entretanto, desandou a falar de miséria, injustiça e pobres como se fossem da sua área. Parece até coisa de candidato.
A Fazenda também não tem nada a ver com violência urbana, narcotráfico, segurança pública.
Malan, entretanto, quase só falou disso num jantar com o PFL no Palácio do Jaburu, a residência oficial do vice-presidente da República. Parece até coisa de candidato.
A Fazenda está agarrada à âncora da inflação (aquela que, em resumo, justifica tudo o que o governo faz de ruim). Quem cuida de verbas para o social é o Ministério do Orçamento. E quem cuida dos programas sociais são Saúde e Educação, por exemplo.
Malan, entretanto, pediu licença à inflação, à Fazenda, ao Banco Central, à Saúde, à Educação e ao Orçamento e foi ao Palácio do Planalto discutir a política social do governo. Parece até coisa de candidato.
Agora, Fazenda e Malan devem mesmo se manifestar sobre o plebiscito da dívida externa, porque está na cara que o resultado vai ser contra o pagamento -logo, contra o governo.
Malan, entretanto, escreve artigos contra o PT e não contra a principal articuladora do plebiscito, a CNBB. Polariza com o partido mais forte da oposição e não cria caso com a igreja. Parece até coisa de candidato.
A Fazenda já tem um site na Internet sobre dados, programas, ações e discursos do ministro que interessam a empresas e cidadãos.
Malan, entretanto, autorizou seu advogado a abrir e depois manteve o site www.Malan2002.com.br. Parece até coisa de candidato.
Como ACM andou dizendo que Malan nunca viu um pobre, só falta agora a agenda da Fazenda trocar os engravatados pelos descamisados. Vai até parecer coisa de candidato.
Nem tudo o que reluz é ouro. Mas pode ser. Às vezes, é mesmo.


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