São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2000

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CARLOS HEITOR CONY

Elegia municipal

RIO DE JANEIRO - Por mais que me esforce, não consigo me emocionar com o período eleitoral, seja ele majoritário, minoritário ou mais ou menos. Gosto de ver os candidatos a vereador prometer pena de morte, relações amistosas com todos os países da face da Terra, salário decente para todos os trabalhadores, essas coisas.
Gostaria de acreditar neles. Às vezes até acredito. Lembro um candidato a vereador, aqui no Rio, que prometia acabar com a discriminação racial na África do Sul. Não foi eleito, nem aqui nem na África do Sul, mas disse algumas verdades.
Admito que o município é o mais importante. Não vivemos num país nem num Estado. Vivemos numa cidade, num bairro, numa rua. Um cano estourado na minha calçada é mais importante do que a Balança Comercial do Malan e a política antitabagista do Zé Serra. É uma forma de valorizar o próprio umbigo, em sua versão cívica.
Quanto aos prefeitos, simpatizo com todos eles, principalmente na véspera dos Carnavais, quando entregam as chaves da cidade ao rei Momo local. É um momento alegre e, ao mesmo tempo, um momento de verdade. Infelizmente, o Carnaval só dura três dias, em Recife parece que dura mais, mas devia durar o ano todo.
Gosto de ver os alcaides quando há enchentes, usam botas de borracha e enfrentam a lama dos rios, as águas barrentas que alagam os bairros de sempre. Prometem obras urgentes e apelam para as autoridades estaduais e federais, que desamparam os municípios onde afinal vivemos e sofremos todos.
É deles o primeiro combate com as tragédias, os desmoronamentos, as pontes desabadas, os viadutos interditados. Cidade extravagante, o Rio tem todos os problemas dos demais municípios do resto do país, mas cultiva alguns que lhe são próprios desde os tempos dos tamoios. Exemplo: o que fazer para melhorar os elevadores do edifício Chopin?


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