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CARLOS HEITOR CONY
Elegia municipal
RIO DE JANEIRO - Por mais que me esforce, não consigo me emocionar
com o período eleitoral, seja ele majoritário, minoritário ou mais ou menos. Gosto de ver os candidatos a vereador prometer pena de morte, relações amistosas com todos os países da
face da Terra, salário decente para
todos os trabalhadores, essas coisas.
Gostaria de acreditar neles. Às vezes até acredito. Lembro um candidato a vereador, aqui no Rio, que
prometia acabar com a discriminação racial na África do Sul. Não foi
eleito, nem aqui nem na África do
Sul, mas disse algumas verdades.
Admito que o município é o mais
importante. Não vivemos num país
nem num Estado. Vivemos numa cidade, num bairro, numa rua. Um cano estourado na minha calçada é
mais importante do que a Balança
Comercial do Malan e a política antitabagista do Zé Serra. É uma forma
de valorizar o próprio umbigo, em
sua versão cívica.
Quanto aos prefeitos, simpatizo
com todos eles, principalmente na
véspera dos Carnavais, quando entregam as chaves da cidade ao rei
Momo local. É um momento alegre e,
ao mesmo tempo, um momento de
verdade. Infelizmente, o Carnaval só
dura três dias, em Recife parece que
dura mais, mas devia durar o ano todo.
Gosto de ver os alcaides quando há
enchentes, usam botas de borracha e
enfrentam a lama dos rios, as águas
barrentas que alagam os bairros de
sempre. Prometem obras urgentes e
apelam para as autoridades estaduais e federais, que desamparam os
municípios onde afinal vivemos e sofremos todos.
É deles o primeiro combate com as
tragédias, os desmoronamentos, as
pontes desabadas, os viadutos interditados. Cidade extravagante, o Rio
tem todos os problemas dos demais
municípios do resto do país, mas cultiva alguns que lhe são próprios desde
os tempos dos tamoios. Exemplo: o
que fazer para melhorar os elevadores do edifício Chopin?
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