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O ACORDO ARGENTINO
D epois de negociações que pareciam se encaminhar para o
impasse, a Argentina e o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegaram a um acordo que permitirá o refinanciamento de US$ 21,9 bilhões,
dos quais US$ 12,5 bilhões se referem a dívidas com a própria instituição e o restante a compromissos
com outros organismos multilaterais. É um passo importante na tentativa de recuperação do principal
parceiro regional do Brasil.
A percepção de que Néstor Kirchner foi um negociador firme, negando-se a ceder em pontos que o próprio ministro da Economia, Roberto
Lavagna, inclinava-se a aceitar, deverá contribuir para reforçar ainda
mais a já elevada popularidade do
presidente argentino.
A principal vitória de Kirchner foi a
redução da meta de superávit nas
contas públicas para 2005, que ficou
em 3% do PIB contra os 4,5% desejados pelo FMI. O governo conseguiu
também, em decisão pouco usual,
manter indefinidas as metas para os
anos subsequentes, que dependerão
de avaliações sobre o desempenho
da economia. Outro ponto importante para Kirchner foi a ausência de
regras sobre as tarifas públicas,
atualmente congeladas.
As concessões, com presumível
apoio de Washington, não deixam
de conter algum reconhecimento do
Fundo sobre sua co-autoria no desastre que foi o "modelo" de liberalização implantado no país vizinho.
É preciso ter em mente, no entanto,
que, embora o objetivo fiscal seja
bem menos rigoroso do que o fixado
no último acordo com o Brasil (os
mesmos 4,5% do PIB), ele exigirá esforços do governo, que para este ano
comprometeu-se com 2,5%. Na última década, o país nunca produziu
superávit dessa magnitude.
Para o Brasil, o desfecho foi positivo. As reações ao "default" anunciado às vésperas do acordo parecem
confirmar que os mercados têm sabido separar a situação dos dois países. Além disso, as declarações do diretor-gerente da instituição, Horst
Köhler, a respeito de "retomada do
crescimento" e "redução da pobreza", poderiam ser entendidas como
sinais favoráveis para uma eventual
renovação de compromissos com o
Brasil em bases menos draconianas.
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