São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A derrama do PFL, o retorno
ALOIZIO MERCADANTE
O ano de 1996 é um marco. Nele é instituída a CPMF, uma versão pouco inovadora do antigo imposto de denominação similar, cuja alíquota inicial de 0,20% foi elevada, em 1999, para 0,38%. Como se não bastasse, em 1998 foi aumentada em 50% a alíquota da Cofins, passando a abranger todas as receitas da pessoa jurídica, independentemente do tipo de atividade por ela exercida. Finalmente, em 2001 foi instituída a Cide, relembrando o antigo Imposto Único sobre Combustíveis e Lubrificantes. Não é de estranhar, então, que a carga tributária global tenha aumentado o equivalente a oito pontos percentuais do PIB durante o governo do PFL. O mesmo governo que provocou a maior centralização da história tributária recente, agravando a situação fiscal e financeira dos Estados e municípios, ao aumentar o peso das contribuições não partilhadas na arrecadação total, e comprometendo a competitividade da nossa economia com o aumento desmedido da tributação em cascata. O mesmo governo que vendeu 76% do patrimônio público e levou o endividamento fiscal a um nível sem precedente, fazendo com que a dívida mobiliária federal passasse de R$ 61,5 bilhões, em fins de 1994, para R$ 623,2 bilhões em dezembro. Além disso, o presidente do PFL tergiversa na abordagem das mudanças promovidas pelo atual governo. É falso, por exemplo, que tenha aumentado significativamente a carga tributária sobre os profissionais liberais. Os que declaram como pessoas jurídicas, com base no lucro presumido -os únicos afetados pela mudança na base de cálculo da CSLL-, continuam tendo uma carga tributária bem inferior aos demais. Para um mesmo nível de rendimentos -por exemplo, R$ 150 mil anuais-, essas empresas teriam uma alíquota efetiva de 11,3% (contra 9,5% antes), muito inferior tanto à dos profissionais liberais autônomos (14,6%), quanto, principalmente, à dos assalariados (19,5%). O que se busca é a isonomia tributária. Também é falso que a proposta de reforma tributária apresentada pelo governo Lula, negociada com todos os governadores e aprovada por ampla maioria da Câmara, preveja "o aumento de dezenas de impostos", como afirma o presidente desse partido. Não há nada na proposta que avalize essa conclusão. É bom não esquecer que a ampliação da carga tributária na gestão do PFL foi acompanhada da elevação dos compromissos de gastos governamentais, particularmente na esfera financeira, que restringem a margem de manobra do atual governo e impedem a redução da carga neste momento. Nesse quadro, a política do atual governo está orientada para a desoneração da produção e das exportações, a desburocratização e simplificação do processo arrecadatório, a obtenção de uma distribuição mais justa da carga tributária e a reconstrução do pacto federativo. Se quiséssemos aumentar impostos, poderíamos fazê-lo por decreto, como fazia o governo anterior. Portanto os partidos políticos estão convocados para um debate qualificado, e não para malabarismos semânticos e manobras demagógicas que pouco contribuem com o esclarecimento da opinião pública e o avanço da reforma. A amplitude do gesto político do presidente Lula e de todos os governadores, que prevaleceu nas conversações em torno das reformas previdenciária e tributária, deve ser resgatada. O PFL, com humildade, poderia fazer a autocrítica, reconhecendo o endividamento que patrocinou e sua responsabilidade na elevação de 30% da carga de impostos nos últimos oito anos, e contribuir com a busca de uma saída viável para a reforma tributária. Aloizio Mercadante Oliva, 49, economista, professor licenciado da PUC e da Unicamp, é o líder do governo no Senado Federal. (www.mercadante.com.br) Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Evelyn Berg Ioschpe: O novo Brasil de sempre Índice |
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