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CLÓVIS ROSSI
Interlocutores, buscam-se
SÃO PAULO - A situação na Bolívia complicou-se a ponto de deixar
em suspenso uma missão -de resto, necessária e bem-vinda- de altos funcionários dos chamados países amigos da Bolívia (Brasil, Argentina e Colômbia).
A previsão original era embarcar
ontem, até porque a avaliação que o
grupo tem, vinda de La Paz, é terrível. Do lado oposicionista, o noticiário dá conta perfeitamente de tudo o que está sendo feito e dito -e
radicalização seria uma palavra
suave para descrever atos e ditos.
Do lado do governo, o presidente
Evo Moraes acha que o espaço para
negociação está fechado, vai manter as Forças Armadas na vigilância
de dependências oficiais (para evitar novos ataques) e, pior, quer lançar as organizações sociais na defesa do seu sitiado governo.
Pior no sentido de que equivale a
semear minas humanas no caminho da crise. Tanto é assim que os
quatro mortos de ontem, no Departamento de Pando, na fronteira
com o Brasil, o foram em um confronto entre grupos opositores e
camponeses pró-governo (dois de
cada lado).
A impressão predominante nas
chancelarias dos países vizinhos é a
de que o Exército boliviano não
quer um cadáver, mas a oposição
"só quer" (é bom deixar claro que os
quatro de Pando não são de responsabilidade das Forças Armadas).
Se essa avaliação estiver correta
(e não há como confirmá-la diretamente), significa que as Forças Armadas tentarão usar mão leve na
repressão, o que tende a atiçar ainda mais a fúria oposicionista, seja
em busca de um cadáver, seja em
busca do nocaute do presidente.
A única alternativa à vista é o diálogo, para o que a missão Argentina/Brasil/Colômbia é essencial. O
problema é que ela foi adiada, entre
outros motivos, porque não foi possível armar, antes, conversas com
as duas partes. O que confirma o
quanto a crise é dramática.
crossi@uol.com.br
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