São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2004

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VOTO AMERICANO

Impulsionado por seu desempenho nos debates, o candidato democrata à Presidência dos EUA, John Kerry, recuperou-se nas pesquisas de intenção de voto e volta a aparecer em situação de empate técnico com seu rival, George. W. Bush.
Em condições normais, uma eleição disputada dá vida à democracia. No caso dos EUA, porém, um resultado apertado aumenta as chances de voltar a ocorrer problemas, a exemplo do verificado na Flórida em 2000, o que levou o pleito a ser decidido não pelos eleitores, mas pela Suprema Corte federal.
Por razões históricas que não cabe aqui comentar, os EUA conservam um sistema "sui generis" de eleição indireta. O candidato que vence num Estado leva para um colégio eleitoral todos os votos aos quais essa unidade federativa faz jus de acordo com o tamanho de sua população. É uma fórmula de aplicar também à eleição presidencial o princípio federativo.
O problema é que esse sistema está levando os candidatos a praticamente ignorar os Estados nos quais a disputa já está mais ou menos definida e a concentrar todas as suas baterias nos chamados "swing states" (Estados indefinidos), que incluem a Flórida, Ohio, Oregon e Iowa.
É neles que estão se dando as piores manobras. Praticamente todos os dias surgem denúncias de golpes de autoridades eleitorais locais (nos EUA são funcionários políticos de governos locais que regulamentam o pleito) visando a impedir os simpatizantes da facção rival de votar.
Essa situação esdrúxula levou, por exemplo, o ex-presidente Jimmy Carter, eterno observador de eleições em todo o mundo, a pedir monitoramento internacional para a Flórida. Também o jornal "The New York Times" conclamou, em editorial, a população a atuar na fiscalização do pleito. Há notícias de que os dois partidos treinam legiões de advogados e fiscais para o dia da eleição.
Espera-se que os EUA não tenham de passar de novo pelo trauma de ver seu presidente ungido não pelas urnas, mas por tribunais. Não deixa de ser irônico, entretanto, que a maior democracia do Ocidente conserve esse sistema eleitoral.

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