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Brecha para a gastança
A INSISTÊNCIA dos parlamentares brasileiros em
criar novidades bancadas
com dinheiro alheio não dá mostras de esgotamento. Recentemente, surgiu no Senado um
projeto de lei que pretende flexibilizar o cumprimento das obrigações estabelecidas pela Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF)
no exercício de 2009.
A proposta tem como justificativa o abalo de arrecadação sofrido pelos municípios em decorrência da crise econômica. Se
aprovada, a flexibilização do
cumprimento da LRF poderá ser
estendida para 2010, caso a arrecadação não se recupere.
É fato que a arrecadação dos
municípios mais pobres, cuja receita é muito dependente de repasses de tributos federais e estaduais, sofreu com a política de
isenções fiscais adotada para
combater a crise e o fraco desempenho da economia no primeiro
semestre do ano.
Contudo, o governo federal já
repassou cerca de R$ 1 bilhão em
recursos adicionais para as prefeituras, com o fito de atenuar a
perda de receitas. Pretende fazer
uma transferência adicional, de
montante equivalente, ainda
neste ano de 2009.
O problema é que, mesmo
quando respeitam as regras fiscais, os governantes brasileiros
costumam trabalhar no limite do
que é permitido. Assim, num
quadro de frustração de receitas,
o ajuste de despesas, especialmente gastos com o funcionalismo, pode se tornar uma tarefa
extremamente custosa. Nessas
circunstâncias, entretanto, flexibilizar o cumprimento da norma
que limita os gastos equivaleria a
premiar justamente a prática
que se pretende evitar.
Desde que foi aprovada, em
2000, a LRF sobreviveu a diversas tentativas de desfiguração, e
várias ainda tramitam no Congresso. São iniciativas que evidenciam a fragilidade da noção
de equilíbrio fiscal no país.
Modificar a lei que compeliu a
uma importante melhora na forma de gestão dos recursos públicos, sem dúvida, seria um grave
retrocesso. O Brasil precisa fechar as brechas para a gastança
da máquina pública -e não abrir
mais uma.
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