São Paulo, segunda-feira, 12 de outubro de 2009

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Serra de mãos limpas

SÃO PAULO - Consta que José Serra não gostou do perfil que lhe dedica o mais recente número da revista "Piauí". Até aí não há nenhuma novidade. O tucano não costuma gostar de quase nada que sai na imprensa a seu respeito. "É um dos políticos que mais reclamam da mídia, dos erros e injustiças dos quais é, ou imagina ser, vítima", diz a repórter Daniela Pinheiro, já perto do final de um texto longo, que se lê com muito proveito e prazer.
Alguns verão um excesso de crueldades próprias do jornalismo. Mas há quem ache o contrário: feitas as contas, a figura do governador sai humanizada da leitura, nada mal para alguém tão refratário a efusões e sentimentalismos.
Serra é estressado, controlador, muitas vezes intratável e especialmente "implicante", registra a repórter, ecoando o que diz ter ouvido de quase todos os entrevistados. Nada disso, ele é "engraçado, espirituoso, fofoqueiro", mas sobretudo "não é fingido", rebatem os amigos.
A aversão à dissimulação e sua intransigência seriam uma virtude do político Serra, tantas vezes confundida com um defeito público. "O marketing dele é o da absoluta sinceridade. Ele não é um entertainer, é um ser público puro", defende a filha Verônica, como quem sugere um contraponto com Lula.
Apesar de tantos prós e contras, o perfil corre o risco de ficar celebrizado menos pelas opiniões dos outros do que por uma mania do próprio Serra. Em três momentos, a repórter o vê lavando as mãos com gel de álcool, que carrega no carro, e diz que esse é um hábito anterior à gripe suína, que ele tem há muitos anos, sobretudo depois de cumprimentar estranhos na rua.
Zelo de homem público, sempre preocupado com a saúde coletiva? Sintoma pouco simpático de um neurótico obsessivo? O leitor saberá o que pensar e concluir.
Fernando Henrique Cardoso diz no texto que "Serra é um ótimo gestor, e ponto final". Acrescentemos: como muitas pessoas, Serra revela ser um péssimo gestor de si mesmo.


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