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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Serra de mãos limpas
SÃO PAULO - Consta que José
Serra não gostou do perfil que lhe
dedica o mais recente número da
revista "Piauí". Até aí não há nenhuma novidade. O tucano não costuma gostar de quase nada que sai
na imprensa a seu respeito. "É um
dos políticos que mais reclamam da
mídia, dos erros e injustiças dos
quais é, ou imagina ser, vítima", diz
a repórter Daniela Pinheiro, já perto do final de um texto longo, que se
lê com muito proveito e prazer.
Alguns verão um excesso de
crueldades próprias do jornalismo.
Mas há quem ache o contrário: feitas as contas, a figura do governador sai humanizada da leitura, nada
mal para alguém tão refratário a
efusões e sentimentalismos.
Serra é estressado, controlador,
muitas vezes intratável e especialmente "implicante", registra a repórter, ecoando o que diz ter ouvido
de quase todos os entrevistados.
Nada disso, ele é "engraçado, espirituoso, fofoqueiro", mas sobretudo
"não é fingido", rebatem os amigos.
A aversão à dissimulação e sua intransigência seriam uma virtude do
político Serra, tantas vezes confundida com um defeito público. "O
marketing dele é o da absoluta sinceridade. Ele não é um entertainer,
é um ser público puro", defende a filha Verônica, como quem sugere
um contraponto com Lula.
Apesar de tantos prós e contras, o
perfil corre o risco de ficar celebrizado menos pelas opiniões dos outros do que por uma mania do próprio Serra. Em três momentos, a repórter o vê lavando as mãos com gel
de álcool, que carrega no carro, e diz
que esse é um hábito anterior à gripe suína, que ele tem há muitos
anos, sobretudo depois de cumprimentar estranhos na rua.
Zelo de homem público, sempre
preocupado com a saúde coletiva?
Sintoma pouco simpático de um
neurótico obsessivo? O leitor saberá o que pensar e concluir.
Fernando Henrique Cardoso diz
no texto que "Serra é um ótimo gestor, e ponto final". Acrescentemos:
como muitas pessoas, Serra revela
ser um péssimo gestor de si mesmo.
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