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ANTONIO DELFIM NETTO
Lamentável manifesto
No terceiro ano do século 21,
um pequeno grupo de "jacobinos" eleitos pelo Partido dos Trabalhadores deu à luz mais um "manifesto"! Ele condena a renovação do acordo que o Brasil vem mantendo com o
FMI desde 1998 e que nos salvou do
"default" duas vezes. A primeira foi
em 1998, em plena campanha eleitoral, quando a interferência do Departamento do Tesouro dos EUA (contra
a vontade da Alemanha, da França e
do Japão) permitiu a reeleição de
FHC. Provavelmente, salvou o Brasil
da enorme confusão que teria sido a
eleição de Luiz Inácio Lula da Silva naquele momento. Basta ler as barbaridades do programa com que o PT se
apresentou àquela eleição para compreender que ele não estava preparado para o poder. A nação entendeu isso e o pleito foi resolvido facilmente
no primeiro turno. Os "jacobinos" até
hoje não entenderam isso...
A eleição de Lula em 2002 não foi a
eleição do PT arcaico, mas a de um
novo PT, cujo programa (redigido inicialmente pelo então deputado Antonio Palocci) foi consagrado pelo futuro presidente na famosa "Carta aos
Brasileiros". Trata-se de um claro
exemplo de como o acidente constrói
a história. Tenho muito poucas dúvidas de que, se o programa eleitoral do
PT de 2002 fosse o que parecia estar
sendo gestado pela equipe do prefeito
Celso Daniel, muito dificilmente a "esperança superasse o medo". O oportunismo jacobino e o seu conforto espiritual foi fingir aceitar o "novo programa" expresso na "Carta aos Brasileiros". Lula não teria mudado: o "novo Lula" era apenas para inglês ver...
Quando chegasse ao poder, desenterraria, no campo da política econômica, os conceitos arqueológicos que
têm, sistematicamente, orientado o
inconsistente discurso jacobino. Na
verdade, o "esquerdismo" de Lula não
mudou, como mostra o seu empenho
com os programas sociais e a sua mobilização da sociedade para um desenvolvimento econômico mais equânime. O que mudou foi a sua percepção
de que a arcaica política econômica de
todos os "socialistas", mesmo os mais
sofisticados e com grande capacidade
de sobrevivência (como Mitterand),
levaria, mais dia, menos dia, ao mais
trágico fracasso. A probabilidade de
"crash" quase imediato é muito maior
nos países como o Brasil, metido no
mais cruel endividamento. Não
adianta citar como contra-exemplos a
China e a Índia porque: 1º) elas vêm
fazendo o percurso inverso da economia centralizada e regulamentada sonhada pelos jacobinos para uma economia de mercado com ênfase na
abertura comercial e 2º) elas nunca estiveram na armadilha do endividamento.
É lamentável que não se entenda que
o FMI é um clube do qual participamos desde a fundação. Ele se destina
não a produzir a desgraça dos países,
mas a auxiliá-los a superar as dificuldades do seu balanço de pagamentos.
Em 2002, pela segunda vez, ele foi importante para que houvesse uma sucessão civilizada. Mais incrível ainda é
a afirmação jacobina de que o "superávit primário" é uma invenção do
FMI para reduzir os gastos com os
"excluídos"! A dimensão do "superávit primário" é uma exigência da aritmética: sem ele, a relação dívida pública/PIB seria insustentável, o que provavelmente aumentaria o número de
"excluídos".
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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