São Paulo, sábado, 12 de novembro de 2005

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FERNANDO RODRIGUES

Nocaute

BRASÍLIA - Atônito, o governo Lula tomou um nocaute espetacular na madrugada de quinta para sexta-feira. O Palácio do Planalto achava que poderia barrar a prorrogação da CPI dos Correios. Foi derrotado pela oposição. Lula corre o risco de ter de aturar depoimentos e acusações em rede de TV até o dia 11 de abril.
No final da tarde de quinta-feira, o articulador político de Lula, o ministro Jaques Wagner, estava de viagem para Bruxelas. Márcio Thomaz Bastos e Dilma Rousseff falaram-se ao telefone, festejando o sucesso na operação antiprorrogação. Deu tudo errado e o Planalto perdeu.
Não se trata, é evidente, do fim do mundo. Mas um governo que perde uma disputa prosaica como essa demonstra estar perigosamente fragilizado. Não era uma votação para liberar drogas ou devolver o Acre para a Bolívia. Tratava-se de um simples requerimento, cuja exigência para aprovação é de mero um terço dos congressistas. Na Câmara, parcos 171 deputados em um total de 513.
Além disso, é justo reconhecer, o governo tem um ponto razoável a seu favor: talvez seja mesmo desnecessário prorrogar a CPI dos Correios até abril. Mais um ou dois meses bastariam para a coleta dos dados.
Nem assim o Palácio do Planalto conseguiu convencer deputados e senadores. E não faltaram argumentos concretos, com promessas de liberação de emendas do Orçamento.
Neste ano, o governo já prometeu liberar (empenhou, no jargão orçamentário) R$ 366,1 milhões de emendas individuais de congressistas. Desse valor, R$ 116,5 milhões (31,8%) foram empenhados de 25 de outubro para cá. Essa era a razão para que o Planalto se sentisse tão otimista a respeito de barrar a prorrogação da CPI dos Correios.
Só que, na atual crise, promessa de Lula e de seus ministros valem pouco. Deputados e senadores querem ver o dinheiro liberado, não só empenhado. Têm razão. Confiar na palavra do PT não tem sido bom negócio.

@ - frodriguesbsb@uol.com.br


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