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CARLOS HEITOR CONY
Efeitos e causas
RIO DE JANEIRO - Francamente, é duro um profissional da mídia voltar-se contra ela, acusando-a de comer mosca em dois casos que irritam
e envergonham a sociedade, esponjando-se num tipo de espetáculo que
funciona em telenovelas ou romances de costumes, mas só agrava a realidade da crise que atravessamos.
Os dois casos estão em destaque,
criando o avestruz que se recusa a ver
a realidade. O primeiro é relativo aos
escândalos do governo e do PT, tratados de forma pontual, acrescentando
a cada dia novas cifras, novos documentos, novas acusações provadas
ou negadas, incluindo o Gran Circo
da entrevista presidencial, que choveu no molhado, revelando o que já
estava revelado.
Daqui a um ano, já teremos um um
novo presidente da República -que
ainda poderá ser o mesmo-, teremos novos governadores, senadores e
deputados. E nada de reforma eleitoral, que é a causa de todos os escândalos. A campanha de 2006 será feita
nas bases que conhecemos. Não mais
haverá caixa dois, que foi flagrada e
deu na porcaria que deu. Mas haverá
caixa três, que estreará com grande
força no mercado. Como está, a Lei
Eleitoral não impedirá a corrupção.
Ela sobreviverá com outros valérios,
delúbios, com outras cifras, com outras CPIs, mas tudo continuará no
mesmo.
O outro caso é a reforma do Código
de Processo Penal, responsável pela
liberdade de três assassinos confessos
que mataram a pauladas um casal
que dormia. Felizmente, não temos
pena de morte, que torna a condenação irreversível. Mas o crime a que
me referi, passados três anos, já deveria estar julgado, com a ampla defesa
dos réus assegurada, mas sem as brechas processuais de tempo e modo
que transformam a "ampla defesa"
num adiamento sucessivo que pode
chegar até ao prazo da prescrição
legal.
Sem reforma eleitoral e sem reforma do processo penal, continuaremos a catar milho, a trancar portas
arrombadas, a pavimentar a larga
estrada da corrupção e do crime.
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