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CARLOS HEITOR CONY
Ministério de coisa nenhuma
RIO DE JANEIRO - Nada assanha
mais a mídia especializada do que
uma reforma ministerial. É natural
que fique assanhadíssima quando
se forma um novo ministério a cada
governo, ministério que, depois de
formado, é sucessivamente reformado ao sabor das contingências e
das exigências de cada situação.
Aqui do meu canto fico pasmo
com os nomes que são lembrados,
insinuados ou rotulados como indispensáveis à salvação da pátria.
E o pasmo é maior quando fico
sabendo que determinado técnico
ou político está cotado para dirigir
as finanças, as obras públicas, as endemias rurais, a reforma agrária, a
segurança pública e a Previdência
Social. Deve tratar-se de um monstro capaz de administrar qualquer
coisa, desde que seja ministro por
conta da cota destinada a determinado partido que ajudou alguém a
eleger-se.
Compreendo que o presidente,
para cumprir os compromissos assumidos durante a campanha, aceite nomear um cidadão que nada
tem a ver com a pasta. O que não
compreendo é que o sujeito, muitas
vezes um advogado de peso, um industrial bem-sucedido, um técnico
de seguros, tope um ministério que
vai cuidar da transposição do rio
São Francisco ou sanear a dívida do
INSS.
Felizmente, não pertencendo a
nenhum partido, a nenhuma corrente de opinião a não ser a minha,
não fui até agora lembrado para nenhum ministério, autarquia ou estatal. É um fato auspicioso para
mim e para a nação.
Há tempos, num dos governos
militares, um médico sanitarista
chegou a ser cotado para o Ministério da Viação e Obras Públicas. E
um engenheiro foi parar no Ministério da Educação.
Agora, num delírio pessoal de
cronista sem assunto, se criarem
um Ministério de Coisa Nenhuma,
podem lembrar do meu nome.
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