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CESAR MAIA
Pérfida Albion
CONSULTOR E porta-voz de
governos da CDU, na Alemanha, hoje em atividade privada, Axel Wallrabeinstein esteve no
Brasil palestrando sobre as eleições de setembro na Alemanha.
Não é necessário lembrar a escolarização dos eleitores lá, a sua politização, num quadro de partidos
com perfil definido, e o uso da lista
partidária (50% dos deputados).
Assim, é de se deduzir que a despolitização eleitoral no Brasil tenda a
ser bem maior que na Alemanha.
Axel afirma que os programas de
governo não têm mais a importância que tinham. O que conta para a
vitória eleitoral são os personagens
e a confiança pessoal do eleitor na
imagem deles. O binômio básico é
confiança e credibilidade. Da mesma forma quando qualquer tema é
abordado em campanha, ou ele se
ajusta na imagem do candidato, ou
o eleitor o ignora.
Axel diz que, numa análise pré-eleitoral, todo cuidado é pouco.
Destacar os pontos de interesse da
população é simples por via de pesquisas. Mas colar os temas aos partidos e aos candidatos depende do
imaginário sobre ambos. Ou se
constrói com tempo a imagem do
partido e do candidato ligado a um
tema, ou esse não será crível para
o eleitor.
Em pesquisa de respostas múltiplas na Alemanha, 79% dos eleitores disseram que os políticos não
mantêm as promessas; 55%, que os
políticos fazem o que querem. Em
outra pergunta, de respostas múltiplas, 77% afirmaram que os políticos defendem grupos de interesse; 66%, que os políticos só pensam
em seu próprio benefício; 60%, que
não se pode confiar nos políticos.
Isso na Alemanha...
O "slogan" principal das campanhas vai deixando de ter vinculação programática (educação, saúde, segurança, emprego ...) e passa a
tratar de valores e sentimentos.
Sarkozy adotou o "orgulho pela
França". Obama, o divulgado "sim,
nós podemos". Merkel, agora em
2009, "temos força para cumprir",
num plural que incluía os eleitores.
O mais surpreendente nos números apresentados é que 35% dos
eleitores afirmaram que sua decisão definitiva só se deu na última
semana, retratando uma linha de
alheamento que Merkel explorou
com uma espécie de "não campanha". Assim, o exercício do poder,
depois, ganha autonomia em relação às razões eleitorais.
Muito mais aqui que lá, promete-se qualquer coisa em campanha e
faz-se o que se quer no governo.
O poeta francês Marquês de Ximenes, no final do século 18, usou a
expressão "Pérfida Albion" (nome
romano da Inglaterra) para afirmar que o país era um reino onde
se dizia uma coisa e se fazia outra.
Era um momento de ampla corrupção política na Inglaterra.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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