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ALÉM DA POSSE
Ao que consta, gerou surpresa
nas hostes do petismo governista a declaração do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de que
pretende promover um programa
nacional de regularização da posse
de terrenos urbanos. Parece que estava programado que o novíssimo Ministério das Cidades, dirigido pelo
ex-governador do Rio Grande do Sul
Olívio Dutra (PT), tomaria a frente
nesse projeto.
Veleidades políticas e burocráticas
à parte, há muito o Brasil necessita
de um ambicioso programa que enfoque as periferias das grandes cidades, que passe pela regularização em
massa da posse da terra, mas que
não se restrinja a esses aspectos.
Um dos principais argumentos de
Bastos é o de que regularizar a titularidade dos imóveis em que hoje vivem milhões de pessoas, na maioria
pobres, significa melhorar as condições dessas pessoas de obter crédito
do sistema bancário. Esse seria um
dos efeitos benéficos da medida. Em
cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, uma grossa fatia das habitações está em situação irregular.
Mas um plano que se resumisse a
atacar a questão jurídica da posse
correria o risco de, ao final, frustrar
as expectativas de avanço da cidadania. A legalização é um passo que
precisa ser seguido por políticas de
infra-estrutura urbana, de habitação,
de garantia e de geração de renda, de
facilitação do acesso às estruturas de
bem-estar do Estado (Justiça, saúde,
escola, segurança, Previdência), de
atenção especial à juventude etc.
A tensão social nos grandes centros urbanos resulta, em boa medida, de uma promessa de desenvolvimento que ficou pelo caminho. A
economia brasileira cresceu a taxas
portentosas até o final dos anos 70, o
que estimulou um processo de transição demográfica do rural para o urbano -e de pequenos para grandes
municípios- dos mais rápidos da
história. Mas eis que, abruptamente,
duas décadas "perdidas" impediram
que o processo de urbanização fosse
completado. Esse terreno que a economia abandonou precisa ser ocupado pela política pública.
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