São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 2003

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BORIS FAUSTO

Em defesa do verde

Sou um dos poucos corintianos -serei o único?- que lamentam a descida do Palmeiras aos infernos da segunda divisão.
Trato de me explicar. Venho de um tempo em que o futebol paulista estava quase circunscrito às façanhas do "trio de ferro" -Corinthians, Palestra e São Paulo. Uns poucos mais como a Lusa, ou o Santos -"campeão da técnica e da disciplina"- não passavam de meros coadjuvantes, limitando-se, quase sempre, a "roubar" pontos dos três grandes.
Mesmo no âmbito do trio de ferro havia uma diferença. O São Paulo era um novato, quando comparado com Corinthians e Palmeiras, ambos nascidos na década de 1910. Desde os primeiros tempos, foram os dois clubes que concentraram as grandes paixões, os grandes ódios e as grandes rivalidades. Foram eles que transformaram o "derby" do campeonato paulista em um espetáculo aguardado com semanas de antecedência. Foi a partir deles que se criaram torcidas com marcas específicas e bairros de clara predominância de um e de outro, como é o caso do Tatuapé e da Vila Pompéia.
Então, ficar sem a possibilidade de um encontro entre os dois, em um campeonato brasileiro, é uma perda irreparável. Com isso, não estou tentando participar do coro dos viradores de mesa, que inclui desde os personagens grosseiros de sempre aos juristas, hábeis em inventar fantasias a partir do princípio de equidade.
De fato, estou propondo um remédio radical para um mal radical: o fechamento do Palmeiras. Sim, o fechamento do Palmeiras e a ressurreição do Palestra Itália, incorporando o Parque Antártica, as camisas do clube e tudo o mais, com exceção do time atual, porque com esse não dá...
Falando de fora, como adversário, mas não inimigo, sempre achei desastrado esse tal de Palmeiras, um nome escolhido artificialmente quando se tornou impossível manter o Palestra, e mais ainda o Palestra Itália, no curso da Segunda Guerra Mundial. "Palmeiras" lembra a flora brasílica, poema de Gonçalves Dias, seja lá o que for, mas nunca um clube esportivo que mereça ser levado a sério.
Já Palestra é exatamente o contrário, pois recorda as raízes étnicas de um clube que nasceu em meio à pluralidade racial de São Paulo. Com um pouco de esforço, dá até para enfatizar a referência à Itália sem que isso constitua uma restrição étnica. Afinal de contas, os paulistas são um pouco italianos, mesmo quando a ascendência é outra.
O leitor atilado dirá: Mas como fazer para colocar o Palestra Itália na primeira divisão, após o sepultamento do infeliz Palmeiras? Não há uma resposta fechada para essa pergunta, embora uma delas me seduza particularmente. Um acordo de cavalheiros bem que poderia introduzir a fênix ressurrecta, como comensal de honra, à mesa da primeira divisão. A partir daí, o Palestra Itália teria de lutar como todos para alcançar a glória ou o desastre. A imensa torcida alvinegra do Parque certamente preferiria a última hipótese.


Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta coluna.


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