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BORIS FAUSTO
Em defesa
do verde
Sou um dos poucos corintianos
-serei o único?- que lamentam
a descida do Palmeiras aos infernos da
segunda divisão.
Trato de me explicar. Venho de um
tempo em que o futebol paulista estava quase circunscrito às façanhas do
"trio de ferro" -Corinthians, Palestra
e São Paulo. Uns poucos mais como a
Lusa, ou o Santos -"campeão da técnica e da disciplina"- não passavam de
meros coadjuvantes, limitando-se,
quase sempre, a "roubar" pontos dos
três grandes.
Mesmo no âmbito do trio de ferro
havia uma diferença. O São Paulo era
um novato, quando comparado com
Corinthians e Palmeiras, ambos nascidos na década de 1910. Desde os primeiros tempos, foram os dois clubes
que concentraram as grandes paixões,
os grandes ódios e as grandes rivalidades. Foram eles que transformaram o
"derby" do campeonato paulista em
um espetáculo aguardado com semanas de antecedência. Foi a partir deles
que se criaram torcidas com marcas
específicas e bairros de clara predominância de um e de outro, como é o caso do Tatuapé e da Vila Pompéia.
Então, ficar sem a possibilidade de
um encontro entre os dois, em um
campeonato brasileiro, é uma perda
irreparável. Com isso, não estou tentando participar do coro dos viradores de mesa, que inclui desde os personagens grosseiros de sempre aos juristas, hábeis em inventar fantasias a partir do princípio de equidade.
De fato, estou propondo um remédio radical para um mal radical: o fechamento do Palmeiras. Sim, o fechamento do Palmeiras e a ressurreição
do Palestra Itália, incorporando o Parque Antártica, as camisas do clube e
tudo o mais, com exceção do time
atual, porque com esse não dá...
Falando de fora, como adversário,
mas não inimigo, sempre achei desastrado esse tal de Palmeiras, um nome
escolhido artificialmente quando se
tornou impossível manter o Palestra, e
mais ainda o Palestra Itália, no curso
da Segunda Guerra Mundial. "Palmeiras" lembra a flora brasílica, poema de
Gonçalves Dias, seja lá o que for, mas
nunca um clube esportivo que mereça
ser levado a sério.
Já Palestra é exatamente o contrário,
pois recorda as raízes étnicas de um
clube que nasceu em meio à pluralidade racial de São Paulo. Com um pouco
de esforço, dá até para enfatizar a referência à Itália sem que isso constitua
uma restrição étnica. Afinal de contas,
os paulistas são um pouco italianos,
mesmo quando a ascendência é outra.
O leitor atilado dirá: Mas como fazer
para colocar o Palestra Itália na primeira divisão, após o sepultamento
do infeliz Palmeiras? Não há uma resposta fechada para essa pergunta, embora uma delas me seduza particularmente. Um acordo de cavalheiros
bem que poderia introduzir a fênix
ressurrecta, como comensal de honra,
à mesa da primeira divisão. A partir
daí, o Palestra Itália teria de lutar como todos para alcançar a glória ou o
desastre. A imensa torcida alvinegra
do Parque certamente preferiria a última hipótese.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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