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CLÓVIS ROSSI
Déficit democrático
MONTERREY - Sob pressão da opinião pública ou, pelo menos, dos setores organizados da sociedade, os governos vêm tentando abrir-se para o
diálogo sempre que há reuniões internacionais -de natureza política,
econômica ou comercial.
Mas é evidente que se trata muito
mais de um quebra-galho do que de
efetiva participação dos setores sociais mobilizados na elaboração de
propostas ou na definição das posições que cada país vai apresentar
nesses foros globais.
Em geral, os textos e propostas elaborados por empresários, sindicatos,
ONGs e entidades da sociedade civil
chegam tarde demais às mãos dos altos funcionários, se é que chegam.
O argumento dos funcionários governamentais (de qualquer país),
sempre que se levanta essa questão
do, digamos, "déficit democrático"
no funcionamento de organismos e
instâncias internacionais, é que os
governantes têm a legitimidade decorrente da eleição e cabe a eles definir as posições do país, ainda mais que ONGs e mesmo entidades empresariais não foram eleitas para esse tipo de função.
É um argumento só formalmente
correto. De fato, os governos têm a legitimidade de origem. Mas é perfeitamente sabido que as campanhas eleitorais são decididas mais por símbolos, personalidades e acidentes de
percurso do que pela efetiva discussão dos grandes temas, em especial os
de relacionamento internacional,
quase esotéricos para não iniciados.
A Alca (Área de Livre Comércio das
Américas), por exemplo, só foi tangencialmente tratada na campanha
eleitoral brasileira de 2002. Dá para
dizer que o eleitorado apoiou uma
Alca light, uma Alca abrangente ou
Alca nenhuma?
Se não se atacar esse déficit, os governantes estarão condenados a continuar a se reunir atrás de formidáveis barreiras policiais, isolados do
mundo. Podem até gostar, mas, a
médio prazo, não funciona.
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