São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Não é guerra, é jogo

BRASÍLIA - Enquanto Lula se preparava para discutir com Bush em Monterrey sobre o fichamento de americanos no Brasil e de brasileiros nos EUA, o Brasil vivia ontem uma incógnita: era para continuar fotografando e tirando as digitais dos gringos ou não?
A confusão deu-se porque a Justiça determinava uma coisa, e o governo, outra. Em liminar, a Justiça Federal foi favorável ao pedido do prefeito do Rio, Cesar Maia, e suspendeu a decisão do juiz de Mato Grosso que começou a onda toda. Em portaria, o governo decidiu manter tudo como estava -ou seja, com os americanos fotografados e "tocando piano"- até que uma comissão do Itamaraty, do Ministério da Justiça e da Advocacia Geral da União se pronuncie.
Como há duas grandes portas de entrada de americanos no Brasil, Rio e São Paulo, deduzia-se que, em tese, o governo mantinha a chatice para 100% dos que entram no país, mas a Justiça livrava a cara de metade deles. Assim, foi-se o dia, até ficar claro que a decisão do governo se sobrepunha à da Justiça.
Durma-se com um barulho desses! E ainda na expectativa do que poderia dar o encontro Lula-Bush no México, previsto para o início da madrugada (horário Brasília). Como Lula diria ao presidente americano que, ou todo mundo ficha todo mundo, ou ninguém ficha ninguém? E como reagiria Bush?
A hipótese de Bush acabar com o fichamento de brasileiros e de Lula acabar com o de americanos era simplesmente nula. O que estava em jogo, portanto, era algum meio-termo, algum gesto do americano que pudesse flexibilizar as medidas brasileiras.
O fato é que Lula não estava blefando, tanto que a portaria saiu horas antes do encontro com Bush, sinalizando que o Brasil não vai ceder assim tão fácil. Mas os americanos nunca blefam, e Bush tem cartas poderosas nas mãos.
Tudo se transformou num jogo, inclusive com torcida. Como em todo jogo, só se sabe quem ganha e perde no final, mas dá para fazer apostas. Eu tenho a minha. Faça a sua.


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