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ELIANE CANTANHÊDE
Não é guerra, é jogo
BRASÍLIA - Enquanto Lula se preparava para discutir com Bush em
Monterrey sobre o fichamento de
americanos no Brasil e de brasileiros
nos EUA, o Brasil vivia ontem uma
incógnita: era para continuar fotografando e tirando as digitais dos
gringos ou não?
A confusão deu-se porque a Justiça
determinava uma coisa, e o governo,
outra. Em liminar, a Justiça Federal
foi favorável ao pedido do prefeito do
Rio, Cesar Maia, e suspendeu a decisão do juiz de Mato Grosso que começou a onda toda. Em portaria, o governo decidiu manter tudo como estava -ou seja, com os americanos
fotografados e "tocando piano"-
até que uma comissão do Itamaraty,
do Ministério da Justiça e da Advocacia Geral da União se pronuncie.
Como há duas grandes portas de
entrada de americanos no Brasil, Rio
e São Paulo, deduzia-se que, em tese,
o governo mantinha a chatice para
100% dos que entram no país, mas a
Justiça livrava a cara de metade deles. Assim, foi-se o dia, até ficar claro
que a decisão do governo se sobrepunha à da Justiça.
Durma-se com um barulho desses!
E ainda na expectativa do que poderia dar o encontro Lula-Bush no México, previsto para o início da madrugada (horário Brasília). Como
Lula diria ao presidente americano
que, ou todo mundo ficha todo mundo, ou ninguém ficha ninguém? E como reagiria Bush?
A hipótese de Bush acabar com o fichamento de brasileiros e de Lula
acabar com o de americanos era simplesmente nula. O que estava em jogo, portanto, era algum meio-termo,
algum gesto do americano que pudesse flexibilizar as medidas brasileiras.
O fato é que Lula não estava blefando, tanto que a portaria saiu horas
antes do encontro com Bush, sinalizando que o Brasil não vai ceder assim tão fácil. Mas os americanos
nunca blefam, e Bush tem cartas poderosas nas mãos.
Tudo se transformou num jogo, inclusive com torcida. Como em todo
jogo, só se sabe quem ganha e perde
no final, mas dá para fazer apostas.
Eu tenho a minha. Faça a sua.
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