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CARLOS HEITOR CONY
Bonés e camisas
RIO DE JANEIRO - É o presidente da República mais popular que tivemos.
Nem JK, nem Vargas, que tiveram
seus momentos durante e sobretudo
depois de seus mandatos, alcançaram a empatia com o homem comum, que fica além e acima do desempenho específico das funções de
chefe de governo e chefe da nação.
JK enfrentou duas rebeliões militares durante o seu governo, e Vargas,
na sua primeira fase, tinha a boca de
fogo que era o DIP, que o vendia como salvador da pátria. Mesmo assim,
apesar da ditadura e do DIP, ele conseguiu ser amado pelo povo, mantendo sua austeridade pessoal que o
proibia de vestir camisas de clubes esportivos e de colocar na cabeça o boné que um grupo circunstancial lhe oferecesse.
Lula não tem a austeridade de Vargas nem a força de vontade de JK para realizar o que deseja. Vai na onda, agradando ou tentando agradar a
gregos e troianos. Agora mesmo, enquanto aparece com uma camisa do
Flamengo, manda dizer ao pessoal
reunido na Índia que o seu governo é
de esquerda.
Se fosse, não precisava dizer. E tem
mais: do jeito que coloca a dicotomia
esquerda-direita, Lula parece que
não superou o bê-á-bá ideológico, o
elementar em matéria de ação política. Ser da esquerda lhe parece o supra-sumo do bem, daí a reivindicação de que é de esquerda. A classificação que atribui a seu governo é discutível. Vamos lá: recusou-se a entrar
na Guerra do Iraque, continua pessoalmente omisso na questão dos turistas norte-americanos que visitam
o Brasil, deixando o assunto para o
Judiciário e para a Polícia Federal.
Promete todos os dias "mudar as
regras do jogo", mas, logo de saída,
nos primeiros minutos da partida, fica embananado sem saber que time
botar em campo.
Para todos os efeitos, Lula está se
revelando um presidente mais do que
comum, sem um plano de ação nítido
e sem uma equipe capaz de realizar o
que dele se esperava.
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