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São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Na seara cultural

RIO DE JANEIRO - As revoluções são necessárias, de tempos em tempos, para corrigir desvios de rota na evolução da humanidade. Apesar de necessárias, elas não escapam da barbárie e, muitas vezes, do ridículo.
A Revolução Francesa teve a barbárie do Terror e muito ridículo, sendo o maior de todos a mudança do calendário, adotando uma novidade que não duraria muito, o brumário, o termidor, o pluviário etc.
A chegada do PT ao poder não chegou a ser uma revolução. Em muitos aspectos está sendo uma continuação. E, na impossibilidade ou na dificuldade de promover uma evolução, também não está dispensando o ridículo.
Não tenho intimidade -nem a desejo- com o poder, mas a seara dita cultural, enquanto a polícia não o impedir, me afeta de algum modo. Gostei da escolha de Gilberto Gil, a quem admiro e em quem confio. Ele é capaz de dar uma evolução ao setor cultural, trazendo idéias e práticas novas, mas sem jogar na lata de lixo tudo de bom que foi feito até agora.
Sobretudo -e é muito comum na área cultural- não é caso para revanchismos, para os ressentidos que se consideraram injustiçados pela antiga ordem e, ao contrário de Lula e de Gil, antes de realizar qualquer coisa, gastam tempo e verba desclassificando os antecessores.
Durante oito anos, critiquei o governo de FHC, mas em sua linha essencial, que foi a adoção da prioridade neoliberal, da hegemonia do mercado sobre todos os outros valores da nação, mas reconheci o esforço e a boa atuação de muitos elementos de seu governo e, na área propriamente cultural, admirei o trabalho de Eduardo Portella na Fundação Biblioteca Nacional e o de Elmer Barbosa no Departamento Nacional do Livro.
Há muita gente boa que pode brilhar numa e noutra função no necessário rodízio de oportunidades e experimentos. Mas não se justifica de modo nenhum a truculência dos que chegam em relação aos que saem.


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