São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Concertação e conselhos
TARSO GENRO
A proposta de concertação, que está no centro da visão defendida pelo governo do presidente Lula, não é um convite à abdicação dos interesses legítimos das corporações, dos grupos ou das classes sociais. Aliás, isso seria uma ingenuidade ou um maquiavelismo primário, incompatível com uma democracia verdadeiramente pluralista e aberta. Nossa proposta de concertação visa localizar os pontos comuns mínimos, que os diversos setores sociais estão dispostos a aceitar como fundamentais, para que o país dê um soberano e vigoroso passo adiante -sem semear a ilusão de que conseguiremos uma "união nacional", na qual os sujeitos políticos perdem as suas identidades, e a sociedade, dividida, aparece como falsamente pacificada. Existem, porém, na história de qualquer sociedade, conflitos que podem ser eliminados pelo diálogo e outros que só podem ser solucionados por longas e custosas pendências históricas -aquelas que só se resolvem pela derrota de uma das partes em conflito. Mas o que está no centro da nossa visão de proporcionar ao país um "novo contrato social" é a sugestão de que, quanto maior for o número de disputas resolvidas pelo diálogo, menos violentas e antidemocráticas serão as soluções daqueles conflitos mais "duros", que sempre atravessam qualquer democracia. Um dos enigmas mais difíceis da vida política contemporânea é aquele que nos coloca a interrogação de como devemos proceder para, permanentemente, revigorar as grandes instituições que construíram a experiência moderna do Estado democrático de Direito. A relação do povo com o Parlamento, cuja origem está na Revolução Gloriosa (1688), e a inferência de que o povo está presente no Parlamento continuam sendo um conceito vital para a democracia. Assim mesmo, os Legislativos ouvem o povo seguidamente, constituem suas comissões externas, promovem seminários e conferências para firmar suas convicções, o que é exemplar. O Conselho de Desenvolvimento Econômico Social responde, também, a essa necessidade de relegitimação permanente do Executivo, que é o ideal das democracias avançadas. E é um instrumento da concertação social, por meio do qual o presidente forma seu juízo político, escuta a sociedade e busca sempre patamares superiores de conhecimento da vontade pública para propor as reformas que mudarão o Brasil. Tarso Genro, 55, advogado, é secretário-executivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Foi prefeito de Porto Alegre (1993-96 e 2001-02) e deputado federal (1989-90). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Rick Greubel: A biotecnologia e a agricultura brasileira Índice |
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