|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Evangelizar a América
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
A exortação pós-sinodal que o papa
João Paulo 2º assinou e entregou aos
bispos no México, a 23/1/99, constituiu para as comunidades católicas
um convite a valorizar o dom da fé,
recebido há cinco séculos em nosso
continente. Mas, para todas as pessoas
interessadas na concórdia social e na
paz, o texto oferece elementos para
uma profunda reflexão e mudança de
atitude.
O documento com o título "Igreja
na América", após introdução sobre
o sentido da assembléia sinodal realizada em Roma, de 16/11 a 12/12/97,
trata em seis capítulos do encontro,
na fé, com Jesus Cristo ressuscitado.
Precisamos reconhecer sua presença
na Sagrada Escritura lida à luz da tradição, na liturgia e na pessoa de cada
irmão, especialmente nos pobres,
com os quais Jesus mais se identifica.
Cristo é caminho de conversão pessoal e social, de comunhão e solidariedade. A parte final do texto convoca a
igreja para anunciar o Evangelho com
particular atenção aos mais afastados
da comunidade eclesial no próprio
continente e para além de suas fronteiras. A "Nova Evangelização" há de
nos preparar para entrarmos sem medo, com a presença e proteção de Jesus Cristo, no terceiro milênio.
Várias proposições sinodais nos ajudam a compreender a complexa condição dos destinatários da ação evangelizadora da igreja.
Um primeiro conjunto de elementos
converge para marcar a identidade
cristã de nosso continente, fruto dos
grupos migratórios da Europa ao longo destes 500 anos: a) há um patrimônio de valores morais que tem por raiz
a mensagem do Evangelho sobre a
dignidade da pessoa, o matrimônio, a
família e o trabalho; b) a história da
evangelização apresenta inúmeros
santos, entre os quais muitos mártires
que selaram com o sangue o testemunho de sua fé; c) existe intensa piedade popular na variedade de suas formas, como a oração em família, a devoção mariana e a peregrinação aos
santuários; d) houve forte influxo na
formação cristã dos americanos por
meio da educação nas escolas e universidades; e) multiplicaram-se as iniciativas na área social e caritativa nos
asilos, hospitais e centros sociais; f) a
vivência do Evangelho fortaleceu a
promoção dos direitos humanos e a
luta por uma sociedade justa, solidária e democrática.
No entanto, a atual ação evangelizadora deverá defrontar-se com vários
desafios: a) a tendência à globalização
atribui valor absoluto à economia e
acarreta o desemprego, o aumento da
diferença entre ricos e pobres, o deterioramento dos serviços públicos e a
destruição da natureza; b) o fenômeno da urbanização e do êxodo rural
leva à perda dos costumes familiares e
das tradições religiosas; c) cresce o peso da dívida externa, não raro fruto da
má administração e da corrupção, que
envolve sempre mais pessoas e estruturas públicas e privadas; d) parece
incontrolável o drama da produção,
do tráfico e consumo de drogas, que
atinge principalmente os jovens; e)
como evitar os prejuízos ecológicos e
a agressão ao meio ambiente, que
causam danos irreparáveis quanto aos
microorganismos, à biodiversidade e
à conservação do planeta?
Diante desses e de outros desafios, o
documento "Igreja na América"
apresenta Jesus Cristo como "caminho, verdade e vida" para toda a humanidade e renova a mensagem de esperança de um mundo marcado por
justiça, diálogo e solidariedade e aberto à transcendência dos valores espirituais do nosso encontro definitivo
com Deus.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados
nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Louvor ao não-pacote Próximo Texto: Frases
Índice
|