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A atitude dos governadores de oposição favorece o diálogo com o presidente?
NÃO
É preciso grandeza
ROSEANA SARNEY
No Brasil, a Federação foi sempre
uma instituição singular. Os republicanos que com ela sonharam e por ela lutaram tinham na cabeça o modelo norte-americano. Era impossível o paradigma. Com a adesão de Estados independentes a essa nova forma de organização nacional, o processo histórico
dos EUA assegurou elevado nível de
autonomia àquelas unidades, enquanto aqui as velhas Províncias surgiram
muito mais em consequência de acidentes geográficos demarcando fronteiras do que de manifestações da vontade política de Estados soberanos.
Nos Estados Unidos, existiram sempre uma sociedade civil forte e um Estado fraco, ao modo saxônico. No Brasil, a direção tomada foi a de um Estado
forte e uma sociedade civil fraca, seguindo o modelo cartorial português e
a tendência latina. A sobrevivência da
unidade nacional tem sido um milagre
em nosso país. Ela se deve mais ao gênio político brasileiro do que às nossas
instituições.
No relacionamento com os governadores, o presidente Fernando Henrique
Cardoso tem manifestado permanente
preocupação com a manutenção do
equilíbrio federativo. Politicamente, ele
tem procurado evitar distinção entre as
unidades governadas pela oposição e as
dirigidas por partidos que o apóiam.
No campo econômico-financeiro estão
as maiores dificuldades.
A Constituição de 1967 criou um novo sistema de distribuição de receitas,
para fortificar os Estados. Com a emenda constitucional de 1969, o modelo começou a ser desmontado. O FPM (Fundo de Participação dos Municípios),
que era de 20% das receitas, foi reduzido a 12%, quase a metade. Inviabilizou-se o planejamento dos Estados.
A Constituição de 1988 fez um esforço
para devolver receitas aos Estados e
municípios. A partir de 1991, o movimento passou a ser inverso, desembocando na emenda constitucional de
1994 que criou o FEF (Fundo de Estabilização Fiscal) e, depois, na Lei Kandir.
Alguns Estados, como o Maranhão, tiveram as suas receitas profundamente
abaladas.
No momento, com as gravíssimas dificuldades que o país enfrenta, temos,
porém, o dever de evitar a transformação de reivindicações justas em imposições inaceitáveis, com objetivos nitidamente políticos.
Na visão atual da sociedade brasileira, o administrador público não pode
ceder à demagogia nem ao populismo,
tentações de rendimento ilusório e fugaz. Devemos ajustar os nossos Estados, sanear as nossas finanças, acabar
com a ineficiência, adotar uma política
de austeridade.
Creio que o presidente tem exercido
com isenção e equilíbrio o relacionamento com os governadores, na medida em que tem se mostrado aberto ao
diálogo e sensível às nossas ponderações -embora alguns setores do próprio governo não adotem a mesma
postura nem se guiem pela mesma visão. Como ele, defendo o ponto de vista
de que a negociação tem de ser conduzida com cada Estado, individualmente. Cada unidade tem seu problema.
A Conferência dos Governadores do
Brasil, criada durante a reunião de São
Luís, deve ser um foro de debates de
caráter técnico -jamais passionalizado pela política. O que não exclui a discussão de inúmeros temas de interesse
comum, como o próprio pacto federativo. Mas isso deve ser feito com isenção e grandeza.
Roseana Sarney, 45, é governadora do Estado do Maranhão pelo PFL, em segundo mandato. Foi deputada federal pelo PFL maranhense (1991-94).
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