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A atitude dos governadores de oposição favorece o diálogo com o presidente?
SIM
Respeito ao pacto federativo
RONALDO LESSA
É indispensável incluir na agenda nacional o debate em torno das dificuldades vividas pelos Estados. As interligações entre a União e seus entes federativos revelam a impossibilidade de isolar
os problemas, pois as contradições que
estão aflorando no atual momento de
crise do modelo econômico brasileiro
exigem reflexões e medidas que assegurem uma relação de harmonia e cooperação entre o governo federal e as unidades da Federação.
Se o Estado vai mal, os reflexos atingem de frente a União. Logicamente, o
inverso é verdadeiro. Interessa ao país
que essa discussão produza efeito positivo e descortine para o cidadão o papel
que o poder público deve realmente desempenhar em nosso meio.
Daí por que firmo minha posição:
mesmo compondo um espectro de forças partidárias oponentes à base de sustentação política do governo central,
estimulei a formação do fórum de governadores para sistematizar um dos
símbolos das relações democráticas,
que é a existência do diálogo tolerante e
propositivo. Ora, o presidente Fernando Henrique Cardoso ainda corrigiu a
rota em tempo hábil, ao delegar a três
ministros de reconhecido prestígio a tarefa de receber a comissão de governadores de oposição e retomar as conversações acerca do estrangulamento financeiro vivido pelos Estados.
Apesar das diferenças e do dispensável exagero interpretativo imposto à
"Carta de Porto Alegre" por prestigiosos assessores governamentais, a essência contida nos nove pontos do documento sugere um cordial e civilizado
confronto de opiniões.
Nos detalhes das entrelinhas está embutida a mesma angústia expressa no
manifesto dos governadores do campo
governista, que se reuniram há pouco
no Maranhão. Eis a razão pela qual o
debate reclama urgência, pois a conjuntura exige providências simultâneas
de todas as escalas de poder.
Mesmo reconhecendo as peculiaridades que norteiam cada esfera, cujas medidas a adotar diferem em intensidade e
características, a agenda do ajuste deve
envolver Legislativo, Judiciário e Executivo. As ilhas de fartura, tão generosamente subsidiadas pelo bolso popular, são incompatíveis com a cidadania.
Considero que o governo federal e o
Congresso têm a responsabilidade de
colocar a engrenagem desse debate em
funcionamento, já que o teto salarial
nem sequer chegou a ser definido.
E, por falar em ajuste, devo dizer que
Alagoas já detonou esse processo. Na
verdade, ele começou num passado recente, quando o governo federal realizou uma "intervenção branca" e até
acompanhou a dispensa de mais de 20
mil servidores públicos, por meio de
programa de demissões voluntárias. Os
abusos do passado, produzidos por um
coronelato político irresponsável, geraram uma crise dentro da já existente. É
por isso que o novo governo começa
reivindicando um mínimo de oxigênio
para desencadear o verdadeiro ajuste.
A herança recebida é amarga: Alagoas
tem mais de 76% de analfabetos funcionais na faixa acima de 14 anos. Além
disso, 52% do total da população não
sabe ler nem escrever. A mortalidade
infantil interiorana supera todos os indicadores; e são alagoanos sete dos dez
municípios detentores dos mais alarmantes índices de desenvolvimento humano, segundo critério estabelecido
por organismos das Nações Unidas.
Encontrei a máquina pública sucateada. Do total de delegacias do interior,
só duas possuíam telefone. No setor
público agrícola, 90% dos alimentos
consumidos pela população são importados de outros Estados.
É por isso que falo em ajuste social e
estou defendendo, em Brasília, a inversão da pauta. Alagoas tem uma dívida
pública astronômica e está comprometendo 15% de sua receita para pagá-la.
Queremos discutir alternativas para esse nó financeiro, ressaltando que o dever de casa está sendo feito.
Como exemplo, cito as gestões para a
viabilização de um novo sistema previdenciário, cujos inativos consomem
hoje 41% da folha de pagamento. Além
disso, estou auditando todos os contratos públicos, para acabar com possíveis
superfaturamentos de obras contratadas no passado.
Tenho certeza de que muitos dos
meus colegas governadores estão trilhando, dentro de suas realidades, o caminho da austeridade administrativa.
Independentemente das deformações
ocorridas pelos desencontros de opiniões, é preciso destacar como positivo
o fato de o país começar a avaliar a saúde das suas entranhas. Está na hora de
voltar os olhos para dentro e enxergar
nosso povo.
O fórum geral dos governadores, com
a participação do presidente, é relevante para refletirmos sobre o papel dos
Estados diante da fragilidade da política
econômica nacional e do respeito ao
significado do pacto federativo.
Ronaldo Lessa, 49, engenheiro civil, é governador do
Estado de Alagoas pelo PSB.
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