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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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A POTÊNCIA E A CORTE

Foi finalmente instalado o Tribunal Penal Internacional. A corte, que já enfrentava uma acirrada e injustificada oposição por parte de Washington, nasce num momento especialmente delicado, em que as instituições de segurança internacionais se encontram em crise.
Ainda assim, a iniciativa é oportuna. O TPI, com sede em Haia (Holanda), tem a missão de julgar crimes contra a humanidade, de guerra ou atrocidades cometidas contra civis, quando nenhuma corte nacional puder ou se dispuser a fazê-lo. Infelizmente, não faltam ao mundo conflitos nos quais delitos dessa natureza têm sido perpetrados.
Se o TPI fracassar, não será por falta de casos a julgar, mas mais provavelmente por ausência de acordo político. Sob a administração de Bill Clinton, os EUA participaram das discussões do tribunal e assinaram o tratado que o criaria.
Clinton, como presidente da única superpotência do planeta, naturalmente tinha dúvidas em relação ao TPI. Temia que militares e funcionários do governo norte-americano pudessem vir a ser julgados politicamente pela corte por suas ações no exterior. Foi por isso que o governo Clinton empenhou-se em criar mecanismos no funcionamento do tribunal que reduzissem esse risco.
A administração Bush, contudo, adotou uma abordagem bem mais hostil em relação ao TPI. Retirou-se do tratado de criação do tribunal e fez uma violenta campanha contra o órgão. Tentou obter, no Conselho de Segurança da ONU, imunidade ao TPI para todos os cidadãos norte-americanos. Como não conseguiu, ameaçou retaliar, vetando missões de paz das Nações Unidas. Com atitudes como essa, Washington se coloca do lado de algumas das piores ditaduras do planeta, que também rejeitam o tribunal internacional.
De resto, a truculência com que Bush combateu o TPI ajuda a explicar a imagem de arrogante que os EUA têm na comunidade internacional. Ajuda, também, a explicar a resistência do mundo a aprovar seus planos de guerra.


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