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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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CLÓVIS ROSSI

E a "solucionática", companheiros?

SÃO PAULO - Os brasileiros acabamos de ser informados de que o PT passou praticamente toda a sua vida equivocado.
É a única conclusão possível a se tirar do mea culpa do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, segundo quem seu partido errou ao não ajudar a aprovar as reformas propostas pelo governo Fernando Henrique Cardoso.
É importante deixar claro que tais reformas, com diferenças apenas de matiz, estão na agenda tupiniquim desde pelo menos o governo José Sarney. É igualmente importante lembrar que o PT sempre se opôs a elas, não apenas no governo FHC.
Tanto que o próprio Mercadante admite: "Se nosso discurso fosse tão bom, não teríamos perdido duas eleições" (perderam três, na verdade).
Se um partido confessa ter passado a maior parte da sua vida enganado, como é que a gente pode acreditar que agora, sim, esse partido descobriu a verdade, no muito discutível pressuposto de que exista uma verdade única e definitiva?
Não me venham, por favor, com a tolice de que as reformas -o novo bezerro de ouro- promoverão a felicidade nacional bruta e que, portanto, ao descobrir o valor delas, o PT finalmente chegou à idade da razão.
Só acredita nessa hipótese quem acha que as reformas são o pote de ouro ao pé do arco-íris, o Santo Graal ou o equivalente. Dois terços dos brasileiros não acreditam, tanto que votaram em candidatos de oposição ao governo que fez das reformas uma espécie de samba de uma nota só.
Sem contar que boa parte do restante votou em um candidato, José Serra, que não acreditava (e não acredita) nas reformas como a pomada-maravilha, que curará de Aids a pé-de-atleta.
É sempre possível que todos esses brasileiros estejam errados, como o PT agora diz que estava. Mas é igualmente possível que o PT apenas prove ser (ou ter sido) campeão na hora de apontar a "problemática". Quando é preciso vir com a "solucionática", patina, tergiversa, pede calma dia sim, outro também, e faz mea culpa.


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