|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
E a "solucionática", companheiros?
SÃO PAULO - Os brasileiros acabamos de ser informados de que o PT
passou praticamente toda a sua vida
equivocado.
É a única conclusão possível a se tirar do mea culpa do líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante, segundo quem seu partido errou ao
não ajudar a aprovar as reformas
propostas pelo governo Fernando
Henrique Cardoso.
É importante deixar claro que tais
reformas, com diferenças apenas de
matiz, estão na agenda tupiniquim
desde pelo menos o governo José Sarney. É igualmente importante lembrar que o PT sempre se opôs a elas,
não apenas no governo FHC.
Tanto que o próprio Mercadante
admite: "Se nosso discurso fosse tão
bom, não teríamos perdido duas eleições" (perderam três, na verdade).
Se um partido confessa ter passado
a maior parte da sua vida enganado,
como é que a gente pode acreditar
que agora, sim, esse partido descobriu a verdade, no muito discutível
pressuposto de que exista uma verdade única e definitiva?
Não me venham, por favor, com a
tolice de que as reformas -o novo
bezerro de ouro- promoverão a felicidade nacional bruta e que, portanto, ao descobrir o valor delas, o PT finalmente chegou à idade da razão.
Só acredita nessa hipótese quem
acha que as reformas são o pote de
ouro ao pé do arco-íris, o Santo Graal
ou o equivalente. Dois terços dos brasileiros não acreditam, tanto que votaram em candidatos de oposição ao
governo que fez das reformas uma espécie de samba de uma nota só.
Sem contar que boa parte do restante votou em um candidato, José
Serra, que não acreditava (e não
acredita) nas reformas como a pomada-maravilha, que curará de Aids
a pé-de-atleta.
É sempre possível que todos esses
brasileiros estejam errados, como o
PT agora diz que estava. Mas é igualmente possível que o PT apenas prove
ser (ou ter sido) campeão na hora de
apontar a "problemática". Quando é
preciso vir com a "solucionática", patina, tergiversa, pede calma dia sim,
outro também, e faz mea culpa.
Texto Anterior: Editoriais: A POTÊNCIA E A CORTE
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Fome e vontade de comer Índice
|