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OTAVIO FRIAS FILHO
Planos A, B, C...
O governo rejeita qualquer hipótese sobre um eventual Plano B
-alguma fórmula alternativa à que
está sendo adotada- e nem poderia
ser diferente. Admiti-la, mesmo que
reservadamente, equivaleria a dar um
tiro no próprio pé. O governo acha
que não lhe resta opção no curto prazo exceto manter, e radicalizar se for
preciso, a política herdada de FHC.
Para quem não é co-responsável pelo governo e tem a obrigação de procurar não se iludir nem propalar ilusões, cabe recordar que não foi essa a
mensagem passada ao eleitorado na
campanha. O cerne dessa mensagem
era a promessa de que havia, sim, um
Plano B: não seria implantado de súbito nem de forma irresponsável, mas
tampouco seria adiado ou esquecido.
Em resumo, se eleito, Lula iniciaria
mudanças que permitiriam transitar
para um modelo econômico menos
dependente de financiamento externo, no qual as taxas de juros cairiam e
o crescimento seria retomado. Toda
campanha eleitoral é demagógica, e a
do ano passado, então saudada como
a mais densa e fecunda quanto ao "debate" de propostas, não foi exceção.
Valeu, como sempre, a máxima de
que o importante é vencer a eleição;
depois se vê como governar. Se existe
surpresa, ela decorre da evidência de
que o partido mais bem estruturado
do país, depois da mais longa e organizada transição de poder que já tivemos, não apenas carecia de qualquer
Plano B, como abraçou o Plano A, que
vinha combatendo havia anos, com
fervor próprio de um cristão-novo.
O governo ainda não completou o
terceiro mês, mas até o momento o
quadro é inquietante. Na economia,
mais do mesmo -com o requinte da
adoção da fraseologia surrada do governo anterior sobre a urgência das reformas previdenciária e fiscal. Nas demais áreas, a sensação crescente de
uma gestão confusa, emperrada, com
fraca capacidade executiva.
Na tentativa de se legitimar perante
as instâncias de poder econômico
-empresariado local, agências e investidores externos-, o governo petista parece ter sido "colonizado" pelo
financismo da administração tucana,
cujo emblema foram o ministro Malan e a sucessão de siderados que andaram dirigindo o Banco Central. A
felicidade per capita entre banqueiros
continua entre as maiores do mundo.
Os indícios ainda não são alarmantes. Logo, porém, as pesquisas de opinião estarão a registrar o desencanto
inevitável ante o abismo entre os contos de fadas vendidos durante a eleição e o continuísmo sem disfarces que
vem sendo adotado. Lula será atingido naquilo que mais lhe importa, a dependência que desenvolveu em relação à imensa popularidade com que se
(mal) acostumou.
Somente então essa conversa sobre
Plano B será para valer. O mais provável é que, primeiro, o comando do governo pense num choque de gestão:
fazer as mesmas coisas, sim, mas com
mais competência gerencial. Serão
trocados alguns ministros (não os
principais, ainda). Se nada surtir efeito, virá o desespero em busca da pedra
filosofal do crescimento econômico,
sabe-se lá por que meios e a que preço.
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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