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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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OTAVIO FRIAS FILHO

Planos A, B, C...

O governo rejeita qualquer hipótese sobre um eventual Plano B -alguma fórmula alternativa à que está sendo adotada- e nem poderia ser diferente. Admiti-la, mesmo que reservadamente, equivaleria a dar um tiro no próprio pé. O governo acha que não lhe resta opção no curto prazo exceto manter, e radicalizar se for preciso, a política herdada de FHC.
Para quem não é co-responsável pelo governo e tem a obrigação de procurar não se iludir nem propalar ilusões, cabe recordar que não foi essa a mensagem passada ao eleitorado na campanha. O cerne dessa mensagem era a promessa de que havia, sim, um Plano B: não seria implantado de súbito nem de forma irresponsável, mas tampouco seria adiado ou esquecido.
Em resumo, se eleito, Lula iniciaria mudanças que permitiriam transitar para um modelo econômico menos dependente de financiamento externo, no qual as taxas de juros cairiam e o crescimento seria retomado. Toda campanha eleitoral é demagógica, e a do ano passado, então saudada como a mais densa e fecunda quanto ao "debate" de propostas, não foi exceção.
Valeu, como sempre, a máxima de que o importante é vencer a eleição; depois se vê como governar. Se existe surpresa, ela decorre da evidência de que o partido mais bem estruturado do país, depois da mais longa e organizada transição de poder que já tivemos, não apenas carecia de qualquer Plano B, como abraçou o Plano A, que vinha combatendo havia anos, com fervor próprio de um cristão-novo.
O governo ainda não completou o terceiro mês, mas até o momento o quadro é inquietante. Na economia, mais do mesmo -com o requinte da adoção da fraseologia surrada do governo anterior sobre a urgência das reformas previdenciária e fiscal. Nas demais áreas, a sensação crescente de uma gestão confusa, emperrada, com fraca capacidade executiva.
Na tentativa de se legitimar perante as instâncias de poder econômico -empresariado local, agências e investidores externos-, o governo petista parece ter sido "colonizado" pelo financismo da administração tucana, cujo emblema foram o ministro Malan e a sucessão de siderados que andaram dirigindo o Banco Central. A felicidade per capita entre banqueiros continua entre as maiores do mundo.
Os indícios ainda não são alarmantes. Logo, porém, as pesquisas de opinião estarão a registrar o desencanto inevitável ante o abismo entre os contos de fadas vendidos durante a eleição e o continuísmo sem disfarces que vem sendo adotado. Lula será atingido naquilo que mais lhe importa, a dependência que desenvolveu em relação à imensa popularidade com que se (mal) acostumou.
Somente então essa conversa sobre Plano B será para valer. O mais provável é que, primeiro, o comando do governo pense num choque de gestão: fazer as mesmas coisas, sim, mas com mais competência gerencial. Serão trocados alguns ministros (não os principais, ainda). Se nada surtir efeito, virá o desespero em busca da pedra filosofal do crescimento econômico, sabe-se lá por que meios e a que preço.


Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.


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