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CARLOS HEITOR CONY
Tropas de mais e de menos
RIO DE JANEIRO - Sempre que se discute a missão dos Exércitos, lembro
um raciocínio de Vicente Blasco Ibañez em "A Catedral", um romance
que hoje é pouco lido, mas muito me
impressionou, faz tempo, tempo em
que os romances me impressionavam. Hoje só me impressiono com os
meus romances, não por serem impressionantes, mas pela audácia mal
informada de escrevê-los.
Dizia Blasco Ibañez que o Exército
de hoje (isto é, no tempo dele) foi superado pela tecnologia. Manter grandes efetivos preparados para a guerra, quando não há iminência de
guerra, é uma inutilidade dispendiosa. As duas funções de um Exército
seriam a defesa do inimigo externo
ou a manutenção da ordem ameaçada pelo inimigo interno.
E a maioria dos exércitos de todo o
mundo são deficientes para garantir
a soberania e excessivos para manter
a ordem. Quando há ameaça de
guerra, mobiliza-se a população civil,
convocando-se a juventude para servir de bucha de canhão no front. Os
efetivos não bastam.
Mas nem sempre há guerra e manter efetivos deficientes para garantir
uma soberania não-ameaçada é um
desperdício de dinheiro e gente. Contudo esses efetivos, deficientes para a
guerra, são gigantescos durante a paz
e, mantidos nos quartéis, num ponto
morto, em permanente "stand by", são
mais do que um desperdício, são uma
tolice.
Repito que o raciocínio é de um autor espanhol, da passagem do século
19 para o 20. Poderia ser aplicado a
este tumultuoso início de século 21.
Nos Estados Unidos, que se preparam
para uma guerra, estão convocando
a juventude não-militarizada para ir
lutar no Iraque.
E no Brasil, violentado pelo inimigo
interno do crime organizado, discute-se o que fazer com o imenso efetivo
militar que poderia, com as adaptações de treinamento e equipamento,
colaborar com as polícias locais, garantindo a ordem nas cidades ameaçadas.
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