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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Tropas de mais e de menos

RIO DE JANEIRO - Sempre que se discute a missão dos Exércitos, lembro um raciocínio de Vicente Blasco Ibañez em "A Catedral", um romance que hoje é pouco lido, mas muito me impressionou, faz tempo, tempo em que os romances me impressionavam. Hoje só me impressiono com os meus romances, não por serem impressionantes, mas pela audácia mal informada de escrevê-los.
Dizia Blasco Ibañez que o Exército de hoje (isto é, no tempo dele) foi superado pela tecnologia. Manter grandes efetivos preparados para a guerra, quando não há iminência de guerra, é uma inutilidade dispendiosa. As duas funções de um Exército seriam a defesa do inimigo externo ou a manutenção da ordem ameaçada pelo inimigo interno.
E a maioria dos exércitos de todo o mundo são deficientes para garantir a soberania e excessivos para manter a ordem. Quando há ameaça de guerra, mobiliza-se a população civil, convocando-se a juventude para servir de bucha de canhão no front. Os efetivos não bastam.
Mas nem sempre há guerra e manter efetivos deficientes para garantir uma soberania não-ameaçada é um desperdício de dinheiro e gente. Contudo esses efetivos, deficientes para a guerra, são gigantescos durante a paz e, mantidos nos quartéis, num ponto morto, em permanente "stand by", são mais do que um desperdício, são uma tolice.
Repito que o raciocínio é de um autor espanhol, da passagem do século 19 para o 20. Poderia ser aplicado a este tumultuoso início de século 21. Nos Estados Unidos, que se preparam para uma guerra, estão convocando a juventude não-militarizada para ir lutar no Iraque.
E no Brasil, violentado pelo inimigo interno do crime organizado, discute-se o que fazer com o imenso efetivo militar que poderia, com as adaptações de treinamento e equipamento, colaborar com as polícias locais, garantindo a ordem nas cidades ameaçadas.


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