São Paulo, sábado, 13 de maio de 2000


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CRIME NA AMAZÔNIA

Vai na contramão da racionalidade e dos reais interesses do país a proposta do deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR) de reduzir de 80% para 50% a área de proteção legal nas propriedades rurais da Amazônia, podendo chegar a 20%. O projeto, que foi aprovado em comissão mista do Congresso e inclui várias outras provisões que facilitam o desmatamento em diversas regiões, segue a plenário nos próximos dias.
Existe a suspeita de que essa concessão à bancada ruralista teria sido utilizada nas negociações para a aprovação do salário mínimo. De qualquer forma, o presidente Fernando Henrique Cardoso já mandou avisar que vai vetá-lo se for aprovado.
Uma administração racional dos recursos da Amazônia com vistas à conservação não é um capricho de ambientalistas sonhadores, mas uma alternativa que pode oferecer atraentes possibilidades econômicas e a oportunidade de colocar a área na rota do desenvolvimento sustentado.
A proposta de Micheletto parte do falso pressuposto de que a agropecuária extensiva seria a vocação da região. Para começar, apenas as partes menos chuvosas da área, uma porção pequena do todo, permitem esse tipo de exploração. No restante, outras atividades econômicas, como o extrativismo manejado, parecem alternativas mais indicadas, gerando mais renda e mais empregos.
Há também a questão internacional. Por diversas razões, os países desenvolvidos têm interesse na preservação da floresta. É justo, portanto, que paguem por ela. O Brasil não pode arcar sozinho com os custos de algo que interessa a todos.
De resto, nenhum projeto para a Amazônia pode ignorar que a região contém 50% da biodiversidade mundial, ou seja, das espécies animais e vegetais, podendo guardar uma infinidade de princípios ativos importantes para o futuro da medicina. Já a extinção, esta é para sempre.
Parlamentares terão agora a oportunidade de rever o relatório. Não têm o direito de sacrificar o futuro das próximas gerações em favor de um discutível interesse imediatista.


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